7 de outubro de 2014

o saco e o baraço

«Tratam-se com uma familiaridade imensa, cansada, caldeada em quase um século vivido lado a lado. Chamam-se nomes feios que não ofendem: maltês, estraga-albardas, freige-moscas. Acabam estes insultos por ser cumprimentos, segundo me capacito ao ver que nenhum deles reage desabridamente. Quando acontece aproximar-se o tio Domingos já quando o companheiro tem desdobrado a toalha das recordações, costuma o tio Zé das Candeias saudar-lhes a chegada com um imensamente terno "Olá, freguês da limonada!" O tio Domingos salva respeitosamente o adjunto e não se dá por achado. E uma vez ouvi o tio Zé despedir-se dele com um "Deus te dê anos de vida como de palmos tem a formiga!" Amicíssimas hostilidades.»

A. M. Pires Cabral, «O saco e o baraço», O Diabo Veio ao Enterro, Lisboa, Nova Nórdica, 1985, p. 20.
(lido na sessão de quarta-feira, 25 de Setembro de 2014)

2 comentários:

  1. Um comentário à guisa de Olá!
    Vamos ler hoje mais umas miudezas de boa fazenda?
    Tenho descoberto, nestas avulsas leituras, excelentes autores de que nunca ouvira falar.
    F.F.

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