3 de junho de 2016

AS PRIMEIRAS COISAS


Um romance "sui generis" que o autor assume como tal desde a própria capa, mas que o leitor (ou pelo menos um leitor, eu) só descobre verdadeiramente quando começa a sentir-se irresistivelmente envolvido pelo pulsar incerto, mórbido, do Bairro Amélia, através do desfilar, aparentemente caótico, quase sempre triste e muitas vezes trágico dos seus personagens.
As Primeiras Coisas é uma obra literária de elevado quilate, uma garrafa de excelente licor, ou um pires de deliciosos biscoitos, que o leitor sorve e consome em pequeníssimas porções, para prolongar o prazer da leitura...
Bruno V. Amaral sabe espreitar para dentro das personagens, descobrir o essencial e o marcante delas e, depois, manejando a paleta com mestria, transformá-las em quadros de tocante beleza.

UM EXCERTO:
"... famílias de lágrimas nos olhos a agradecer ao senhor doutor professor que era tão bom, que dava casas ao povo e aumentava as reformas, o ridículo das melhores roupas, os vestidos de cerimónia, os casaquinhos de malha, fatos de fazenda, camisas brancas com surro na gola, os sapatos engraxados e tortos de caminhadas pelas pedras e lama da estrada, o palanque erguido à pressa, os seguranças a rodearem o senhor primeiro-ministro não fosse nenhum dos pobres bem-agradecido ao ponto de lhe assestar um beijo na face severa de seminarista neurasténico e já na altura com aquele perpétuo esgar que ninguém sabia dizer se de asco se de emoção."


(Fernando Faria)
 

2 comentários:

  1. Livro maravilhosamente excepcional e excepcionalmente maravilhoso :)

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  2. Um livro de Crónicas que é um romance com princípio, meio e fim!
    O que deixei acima é o resumo do que diria logo se pudesse ir... Boa sessão!

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