As cruzadas vistas pelos árabes, de Amin
Maalouf, é um livro que surge naturalmente na leitura do poema dramático Nathan o sábio, de Gotthold Lessing.
Como não estive presente na sessão, não sei se a obra do escritor libanês foi referida
pelos colegas do Clube de Leitura ou pelos visitantes do teatro de Almada.
A peça de
Lessing, escrita, como sabe quem leu o prefácio de Manuela Nunes, para arrumar
de forma exemplar a controvérsia teológica e filosófica com o ortodoxo luterano
Johann Melchior Goeze, afasta-se um pouco da verdade histórica e, na verdade,
nem tinha de a respeitar por inteiro. O aspecto que mais me intrigou, foi a
presença em Jerusalém do patriarca romano. À luz de Maalouf e dos cronistas
árabes citados, o patriarca abandonou a cidade depois de ela ter sido tomada por
Saladino em 1187. O sultão de origem curda (Saladino nasceu em Tikrit, actual
Iraque) foi, de resto, magnânimo, deixando-o sair com todo o ouro da igreja e
aliviando consideravelmente o valor dos resgates exigidos para a partida dos
cristãos. Destes, só os ortodoxos gregos e os jacobitas permaneceram na cidade
santa das três religiões monoteístas.
Já as
referências ao exaurido tesouro de Saladino são concordantes com a palavra dos
cronistas. As promíscuas alianças existentes naquele século XII entre o pessoal
político-militar dos diversos credos, sobretudo
cristãos e muçulmanos, tornam verosímil o novelo de parentescos desfiado
nas últimas cenas.
Sem tirar mais conclusões, penso que Nathan o sábio deverá ter originado uma boa discussão entre os leitores. É um livro como gosto,
dos que nos obrigam a procurar outros livros. Foi por ele que voltei a folhear
o Decameron de Boccaccio, em cuja
obra se inscreve a parábola dos três anéis,
usada por Lessing como peça fulcral do seu poema dramático e contada, na obra do escritor toscano, pela personagem Filomena. Ainda sobre Boccaccio: são notáveis o prefácio do autor sobre a peste que grassou em Florença de Março a
Julho de 1348 e a sua judiciosa conclusão a respeito das «cem novelas que em
dez dias contaram sete donzelas e três donzéis.»
Não foi, mas lembrei-me do livro dele que já aqui lemo, «Um Mundo sem Regras».
ResponderEliminarvamos reencontra o sábio Nathan em Dezembro ou Janeiro nos palcos de Almada, certo?
Vou tentar. Para mim, Dezembro está complicado, mas espero aparecer na Praça da Canção.
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