Autobiografia
de Marjane Satrapi (Rasht, Irão,
1969). até ao início da idade adulta, no seio duma família
desafogada do Irão contemporâneo; trecho de vida que assistirá à
revolução islâmica, à carnificina da Guerra Irão-Iraque e à
normalização da repressão. História pessoal, história duma
família, história dum país, Persépolis
(quatro tomos, 2000-2003) é um bom exemplo de como a novela gráfica
elevou a BD a outro patamar, tema a desenvolver noutra ocasião.
Um
livro especial, que traz ao proscénio uma criança de dez anos
Marjane Ebihamis, que se tornará 'Satrapi' (nome nada casual),
figura real que se transporta para o mundo da BD, enquanto
personagem, espécie de mistura feliz da Mafalda de Quino com a
Esther de Riad Sattouf. Família especial, moderna e cultivada,
classe alta, pais comunistas, ele descendente do xá Nasser Aldim, da
dinastia Kadjar, que governou o país entre 1794 e 1925; aristocratas
e marxistas num estado cujo tirano foi substituído pela não menos
brutal teocracia dos aiatolas. Um país especial, o Irão (os gregos
antigos chamaram-lhe Pérsia), berço duma grande civilização,
encerrando todas as contradições em que se confrontam tradição e
modernidade. Aspirações, refúgio no Ocidente, depressão,
até à tomada de consciência de si, numa sociedade esquisofrénica.
Uma
observação a propósito do desenho minimalista de Satrapi: reparem
nos olhos das personagens e comparem-nos com os dos arqueiros do
friso do palácio de Dario III (em exposição no Louvre), cuja
capital era... Persépolis.
Persépolis
texto
e desenhos: Marjane Satrapi
edição:
Bertrand, 2015
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