Em leituras investigantes, dei comigo a ler um livro interessantíssimo de Emídio Navarro, descrevendo um passeio científico, promovido pelo doutor Sousa Martins, à Serra da Estrela, e, entre muitas curiosidades e pormenores, dei com o seguinte trecho, que me permito transcrever, atualizando a grafia de 1884.
«... Por baixo do tal quadro havia algumas fotografias. - De quem é este retrato? perguntei admirado, apontando para uma delas. - É de Beldemónio; é de meu filho, respondeu o pobre homem com um suspiro, que parecia traduzir, em partes iguais, um misto de ternura e de mágoa. Uma natural delicadeza nos proibiu de investigar e profundar a significação desse suspiro, contentando-nos em saber, que vive em Gouveia o pai de um dos moços mais esperançosos da nossa literatura, estilista de buril tão delicado e mimoso, como vigoroso e firme...
... E aí está o segredo de Gouveia. Ficámos sabendo, que vive em Gouveia o pai de um dos nossos mais distintos escritores, e que o pai rendilha quadros de canudinhos de papel com tanta perfeição, como o filho rendilha períodos harmoniosos. O pai chama-se Vitorino Lobo Correia de Barros, e o filho assina-se Barros Lobo, e usa no jornalismo o pseudónimo de Beldemónio...»
Se lhe abri o apetite, lamento informar que o livro se tornou uma raridade, mas espero que, a curto prazo, o possa encontrar na Bibliotrónica Portuguesa... sem papel.
Bem lembrado.
ResponderEliminarPena o pobre do Beldemónio ter morrido tão novo (penso que aos 34 anos); o orgulhoso pai terá sofrido não pequeno desgosto...
ResponderEliminarInteressantes estas descobertas dos verdadeiros bibliófilos, como o amigo Zé Serra!
Tenho descoberto coisas interessantíssimas, sim. Pena que muitas já se encontrem só em suporte digital e com as ortografias da época, o que "obriga" a ler apenas o sentido, sob pena de, às tantas, já não sabermos como se escrevem alguns termos.
EliminarQue exagero esse de "ler apenas o sentido", caro Zé!
EliminarVê-se mesmo que pertence ao clube dos que querem depenar a graphia até ao tutano! :)