"Muitas pessoas enaltecem a perestroika... Todos tinham esperança em qualquer coisa. Eu não tenho nenhum motivo para gostar de Gorbatchov. Lembro-me das conversas na sala dos médicos: «Acaba-se o socialismo, e o que vai haver depois dele?» «Acaba-se o mau socialismo, e haverá bom socialismo.» Tínhamos esperança... líamos os jornais... Em breve o meu marido perdeu o emprego, o instituto foi encerrado. Um mar de desempregados, todos com formação superior. Apareceram os quiosques, depois os supermercados, onde havia de tudo, como nos contos, e não havia com que comprar. Eu entrava e saía. Comprava duas maçãs e uma laranja, quando as crianças estavam doentes. Como resignar-se a uma coisa destas? Como aceitar que agora passe a ser assim? Estava na bicha para a caixa. E à minha frente um homem com um carrinho, onde havia ananases, bananas... Uma ofensa ao amor-próprio. As pessoas estão hoje todas cansadas disso. Deus nos livre de nascer na URSS e viver na Rússia (Silêncio) Nenhum dos meus sonhos se cumpriu na vida."
(Depoimento da mãe de uma jovem vítima do atentado de 6-2-2004 no metro de Moscovo)
Livro constituído por testemunhos de pungente e às vezes atroz conteúdo, de pessoas reais de diversas idades, nacionalidades e origens sociais, em que se retrata, com um misto de crueza e grande beleza (literária) o que foi a vida no tempo da URSS e no período que se seguiu à sua desagregação (neste caso com realce para a pobreza, desigualdades, injustiças, insegurança, corrupção, etc.).É também aflorado o grande problema do (re)nascer de ódios de índole religiosa, nacionalista e étnica, por vezes no seio das próprias famílias, com a desagregação do estado soviético. Um extenso e belo documentário! A não perder!
FF
Esse é um dos que ainda não li e tenho por obrigatório. Vou evitar o do Chernobyl, por que acho que não tenho coragem para tal.
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