12 de abril de 2023

UM PASSADO PERFEITO

Já há muito que aqui não vinha. Da última vez que o fiz, esforcei-me por publicar uma léria sobre um livro meu, mas desisti depois de umas dez tentativas de ilustrar com uma imagem. Tentei atribuir o fiasco a um capricho do computador, mas, na verdade, é a central eléctrica que já vai falhando... Vale a tudo isto a autocomplacência com que um septuagenário procura camuflar a frustração do impiedoso desgaste... 

Hoje, terminada a leitura do magistral romance policial de Leonardo Padura, cuja discussão está aprazada para a próxima sexta-feira no Clube de Leitura Ferreira de Castro, de Sintra, voltei, disposto a dispensar a imagem e centrar-me nos caracteres.

Posso afirmar que me encheu as medidas. Tão inteligente, tão fino, tão humano. Brilhante, mesmo!

E deixo um pedacinho. Pena que um pouco mórbido...:

          «Agora faltava o brilho claro dos seus olhos e a voz, lançada com dramatismo sobre a multidão.              Faltava o hálito imaculado do seu rosto acabado de barbear, lavado, acordado. Faltava o sorriso             inevitável e seguro que esbanjava luz e simpatia. Parecia ter engordado, com uma gordura                    violácea e doentia, e precisava urgentemente de pentear o seu cabelo castanho.

            - Mas é ele - disse o Conde, e o médico-legista voltou a cobri-lo com o lençol, como o pano que             cai no último acto de uma peça sem encanto nem emoção.»

F.F. 

3 comentários:

  1. Agora faltava... preencher esses buracos que se abriram pelo meio do texto...

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    1. Se imaginarmos que os buracos são propositados, deixa de ser defeito e passa a feitio.
      Se pensarmos no que se tem (des)feito, em escrita, para dar nas vistas, estes buracos são irrelevâncias.
      Para a próxima, não chame a atenção... e passa a ser estilo.

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  2. Um livro muito bem sacado, diria Mario Conde...

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