24 de abril de 2023

6 poemas de Liberto Cruz - o Autor e o seu Livro - 28-IV-2023

Quem a morte sentiu

Da vida não foge

(Livro de Registos / Última Colheita, 2022)


***


Tenho a idade

deste plátano 

e desta tília.


Todavia sei

que não vamos

envelhecer juntos.

(Sequências, 2000)


***


Uma só vida não chega

Nem outra nem outra ainda

Para dizer que te amo

Meu amor meu só amor.


E quando a morte vier

Inevitável e certa

Que seja eu o primeiro

A ficar no livro inscrito.


Que ali discreto seja

E feliz por ter amado

A mulher por que morri


Vivendo. Nada mais quero.

Se de meu amor morri

Morrendo volto a viver.

(Caderno de Encargos, 1994)


***


Como defender a Pátria falando outra língua,

Se outra língua ouvindo sei que esta terra

Minha Pátria não é?

(Jornal de Campanha, 1986)


***


Em Portugal haver mocidade portuguesa

é um pleonasmo a evitar

(Gramática Histórica, 1971)


***


SÓ PORQUE ÉRAMOS PUROS

Só porque demos as mãos

E gritámos bem alto 

O nome da amizade,

Só porque trocámos carícias

Sem o prazer dos sexos

E fomos amantes Como o luar e o rio,

Chamaram-nos devassos

E refugiaram-se no mundo 

Torpe, em que não caímos.

(Momento, 1956)





1 comentário:

  1. Aos Confrades que...
    A punição por não terem estado presentes é que nunca irão conseguir imaginar a riqueza que perderam.
    Digo eu que «não gosto de poesia... gosto de alguns poemas». Imagino o que seria ainda, se gostasse.

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