1. «Nero». «Sentia-se cada vez pior.»
Miguel Torga, Bichos (1940), 19.ª ed, Coimbra, 1995
«A Beleza como dever, a coragem como único caminho para o futuro.»
Rui Chafes, «O perfume das buganvílias», Entre o Céu e a Terra (2012)
Trindade Coelho, Os Meus Amores [1891], Mem Martins, Publicações Europa-América, s.d.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Contos Exemplares [1962], 4.ª ed., Lisboa, Portugália, s.d.
Dora Nunes Gago, Palavras Nómadas, Vila Nova de Famalicão, Húmus, 2023.
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O SONHO SEM DESTINO
Se os caminhos são breves
e os dias tão compridos,
e as tuas mãos mais leves
que a espuma dos vestidos;
se é de ti que me ondeia
uma brisa subtil...
E a vaga diz: -- Sereia!
E o sonho diz: -- Abril!
Se cresces e dominas
os campos que acalento,
e inundas as colinas
de fontes que eu invento;
se tens na luz dos olhos
o misterioso apelo
das cidades de fogo,
das cidades de gelo;
se podes bem guardar
na tua mão fechada
o meu altivo Tudo
e o meu imenso Nada;
se cabe nos meus braços
a bruma que tu és,
e em algas e sargaços
te abraço nas marés;
se, puro, na presença
da nossa grande Casa,
pões na voz de horizonte
um lume de asa e brasa.
Não sei porque te sonho
na sombra matinal,
e ao meu lado te vejo,
real e irreal.
Sabeis -- adaga fria,
que ao meu peito cintilas --
onde se oculta o dia
das aragens tranquilas?
Se tudo sabes, mata
com dedos de oiro fino,
ou com gume de prata,
o sonho sem destino!
Natércia Freire (Benavente, 1919 - Lisboa, 2004)
Anel de Sete Pedras (1952 /
/ in Ana Hatherly, Caminhos da Moderna Poesia Portuguesa (1960)
«Eu, muito simplesmente, emagrecia porque as nuvens que me alimentavam andavam cada dia mais escassas.»
Félix Cucurull, «Carta de despedida», Antologia do Conto Moderno; trad. Manuel de Seabra
FESTA ALEGÓRICA
«É impossível que certas flores sejam filhas das grosseiras plantas de que brotam.»
Fialho de Almeida, O País das Uvas (1893)