Rio, 1808 (daqui)
Os emigrados chegavam a uma sociedade intensamente ritualista --como Lisboa, mas com características africanas. Procissões religiosas, comuns no Portugal do início do século XIX, misturavam-se com outras tradições -- o trovejar dos tambores africanos do batuque, a dança afro-brasileira; a capoeira, uma provocante arte marcial praticada nas comunidades de escravos, incomodativa sem dúvida para espectadores europeus; bem como os ritmos mais subversivos, como a queima da efígie de Judas, que acabou por ser proibida pelos colonos atemorizados. As ruas eram coloridas, mesmo carnavalescas; mas eram também brutais e ameaçadoras, divididas pelas tensões subjacentes a uma sociedade assente na escravatura.
Os exilados passaram as primeiras semanas em estado de choque cultural e emocional. [...]
Patrick Wilcken, Império à Deriva -- A Corte Portuguesa no Rio de Janeiro 1808-1821, tradução de António Costa, 9.ª edição, Porto, Civilização Editora, 2007, p. 111.
Sem comentários:
Enviar um comentário