Os ventos tristes batem no meu rosto
batem no meu poema as vozes muito antigas
de não sei que desgosto sempre tão cantado
nas cantigas nocturnas do país amado.
Eu cantarei os homens assentados
nas cadeiras de chuva sobre a dor.
Dos nervos do meu canto lançarei mil dardos
eu cantarei o amor e os ombros libertados
de seus fardos. Que eu vi na dor os homens assentados.
Deixai-me ouvir os homens que falam tão baixo.
Porque não sei trair a honra de cantar deixai-me
cantar meu povo onde meu povo não cantar.
Eu quebrarei qualquer açaime e do luar farei um facho
para encher de luar os homens que se queixam baixo.
Canto de pé no meio do país amado.
Outros falem de si tecendo a frágil dor
deitados no poema entre cortinas e almofadas.
Eu cantarei o amor que sempre foi negado
às gentes ignoradas do país amado.
Praça da canção (1965), 4. ª ed., Mem Martins, Publicações Europa-América, 1979, p. 45.
Prisioneiro da pide em Luanda, c. 1963 |
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