A NOITE DESCE
Sobre uns olhos castanhos, carinhosos,
A noite desce... Ah! doces mãos piedosas
Que os meus olhos tristíssimos fechassem!
Assim mãos de bondade me embalassem!
Assim me adormecessem, caridosas,
E em braçadas de lírios e mimosas,
No crepúsculo que desce me enterrassem!
A noite em sombra e fumo se desfaz...
Perfume de baunilha ou de lilás,
A noite põe-me embriagada, louca!
E a noite vai descendo, muda e calma...
Meu doce Amor, tu beijas a minh'alma
Beijando nesta hora a minha boca!
Perfume de baunilha ou de lilás,
A noite põe-me embriagada, louca!
E a noite vai descendo, muda e calma...
Meu doce Amor, tu beijas a minh'alma
Beijando nesta hora a minha boca!
Florbela Espanca (Vila Viçosa, 1894 - Matosinhos, 1930)
Poesia da Noite, selecção e prefácio de Urbano Tavares Rodrigues.
(lido numa sessão de 2011)
No passado dia 24, estive num encontro em que foram lidos vários poemas de Florbela Espanca.Nesse mesmo dia postei um deles, 'Ser Poeta'. Poema lindo, tal como este!
ResponderEliminarOlinda
A Florbela sabe sempre bem.
ResponderEliminarO único poema que sei de cor e que interiorizei na adolescência. E o engraçado é que continuo a gostar :).
ResponderEliminarSonho Vago
Um sonho alado que nasceu um instante,
Erguido ao alto em horas de demência…
Gotas de água que tombam em cadência
Na minh’alma tristíssima, distante…
Onde está ele, o Desejado? O Infante?
O que há-de vir e amar-me em doida ardência?
O das horas de mágoa e penitência?
O Príncipe Encantado? O Eleito? O Amante?
E neste sonho eu já nem sei quem sou…
O brando marulhar dum longo beijo
Que não chegou a dar-se e que passou…
Um fogo-fátuo rútilo, talvez…
E eu ando a procurar-te e já te vejo!
E tu já me encontraste e não me vês!…
in Charneca em Flor, Poemas
Um encanto, Ana Sara.
ResponderEliminarGostava de saber poemas de cor, mas nunca me exercitei. Sei dois ou três compostos apenas po um único verso, ou dois.
É tudo tão bonito, R. Emociono-me constantemente quando por aqui passo.
ResponderEliminarCreio que nenhum blogger poderia querer mais.
EliminarObrigado.
Ainda não li um soneto da Florbela que me desagradasse. Se eu conhecesse muito mais de poesia portuguesa, atrever-me-ia a dizer que, nesta forma, é inultrapassável.
ResponderEliminarCreio que o José Régio escreveu que, no soneto, o Bocage era o maior, maior ainda que o Camões.
EliminarTenho 600 páginas com poesia do Bocage; agora fiquei com vontade de verificar se o Régio tem razão, mas estou em crer que, com diferença de uns 30 anos, ele não terá lido a Espanca.
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