MEU MENINO, INO, INO
1
Dos versos que exprimem,
Estou cansado!
Das palavras que explicam,
Estou cansado!
Ai, embala-me, fútil, e frágil, no ó-ó dos teus versos,
Ai, encosta-me ao peito...!
Mais não quero que ser embalado.
2
O menino está doente...
-- Diz a mãe.
Qui-é qui-é
Que o menino tem?
Ai...!
Diz o pai.
A criada velha chora pelos cantos
E reza a todos os santos...
Afirma o senhor doutor
Que amanhã que está melhor.
O pai suspira:
-- Quem sabe lá?!
E o menino diz:
-- Papá...!
A mãe chora:
-- Quem já me dera amanhã...!
E o menino diz:
-- Mamã...!
E, com a febre, rezinga,
E choraminga,
Olhando a lua amarela
Como uma vela:
-- Quero aquela péla...!
Mas o Pai do Céu sorri:
-- Vem cá vê-la!
É para ti.
3
-- Acabaste?
-- Meu amor, acabei.
-- Apagaste a candeia? apagaste?
-- Meu amor, apaguei.
- E fechaste o postigo? e fechaste?
- Meu amor..., sim, fechei.
-- Que rumor é aquele? não sentes?
-- Meu amor, que te importa?
É a vida a dar socos na porta.
É lá fora. São eles. É o mundo. São gentes.
-- São gentes? Quem são?
-- São colegas, amigos, parentes...
-- Vai dizer-lhes que não! Vai dizer-lhes que não!
José Régio (Vila do Conde, 1901-1969)
As Encruzilhadas de Deus (1936)
A parte 3 deste poema deu brado na polémica de 39 com o jovem Cunhal. Curiosamente, o poema foi publicado no nº 19 da "presença", de Janeiro de 1929, sendo atribuída a autoria ao "quase heterónimo" João Bensaúde. Malhas que a literatura tece!
ResponderEliminarComo prezo a sua atenção, meu caro! Grande e elevada polémica.
EliminarTalvez, mas só talvez, haja outra forma mais alta de passar o tempo: voluntariado em hospitais, lares de idosos, instituições de misericórdia, associações que acolhem animais, dádivas a crianças com cancro e muito mais. Tanto, tanto para fazer…
ResponderEliminarO tempo é um espaço precioso que não deve ser desperdiçado, Manuel Nunes.
Talvez, Manuel, talvez...
EliminarTalvez, Ricardo, talvez...
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