29 de abril de 2025

101 poemas portugueses - #65

 

NOCTURNO DE LISBOA


Pela noite adiante, com a morte na algibeira,
cada homem procura um rio para dormir,
e com os pés na lua ou num grão de areia
enrola-se no sono que lhe quer fugir.

Cada sonho morre às mãos doutro sonho.
Dez-réis de amor foram gastos a esperar.
O céu que nos promete um anjo bêbado
é um colchão sujo num quinto andar.


Eugénio de Andrade (Póvoa de Atalaia, Fundão, 1923 - Porto, 2005)

Os Amantes sem Dinheiro (1950)

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