A 25 de Setembro de 1807, uma carruagem corria pelas ruas mal empedradas de Lisboa. Depois de percorrer as colinas que rodeavam o porto, saiu para campo aberto e começou a chocalhar através de prados e pomares de citrinos. Sentado na cabina ia o nobre irlandês de vinte e sete anos Percy Clinton Sydney Smythe, sexto visconde de Strangford, o enviado da Inglaterra em Lisboa. Enquanto a carruagem se dirigia para norte, Strangford trabalhava em maços de correspondência diplomática espalhados no colo -- cartas de Jorge III, recomendações do secretário dos negócios estrangeiros britânicos, George Canning, e do seu congénere português, António de Araújo -- preparando o mais crucial encontro da sua carreira. Em percursos mais planos da estrada, tomava notas ou fazia comentários nas margens dos seus papéis e no resto do tempo ensaiava mentalmente o que planeara dizer quando estivesse cara a cara com o príncipe regente de Portugal, D. João.
Patrick Wilcken, Império à Deriva -- A Corte Portuguesa no Rio de Janeiro (1808-1821), tradução de António Costa,9.ª edição, Porto, Civilização Editora, 2007, p. 21.
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