14 de julho de 2011

um soneto de Camões*

Doce sonho, suave e soberano
        Se por mais longo tempo me durara!
        Ah! quem de sonho tal nunca acordara,
        Pois havia de ver tal desengano!
Ah! deleitoso bem! ah! doce engano!
        Se por mais largo espaço me enganara!
        Se então a vida mísera acabara,
        De alegria e prazer morrera ufano,
Ditoso, não estando em mim, pois tive
        Dormindo, o que acordado ter quisera.
        Olhai com que me paga meu destino!
Enfim, fora de mim ditoso estive.
        Em mentiras ter dita, razão era,
        Pois sempre nas verdades fui mofino.

Urbano Tavares Rodrigues (introdução e selecção), Poesia da Noite, Lisboa, Neo-Farmacêutica, 1970, p. 15.


* Lido na sessão de 4 de Fevereiro de 2011.

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