A ninguém mostras rigor!
Que rosa és tu sem espinhos?
Ai, que não te entendo, flor!
Se a borboleta vaidosa
A desdém te vai beijar,
O mais que lhe fazes, rosa,
É sorrir e corar.
E quando a sonsa da abelha,
Tão modesta em seu zumbir,
Te diz: -- Ó rosa vermelha,
Bem me podes acudir:
Deixa do cálice divino
Uma gota só libar...
Deixa, é néctar peregrino,
Mel que eu não sei fabricar...
Tu de lástima rendida,
De maldita compaixão,
Tu à súplica atrevida
Sabes tu dizer que não?
Tanta lástima e carinhos,
Tanto dó, nenhum rigor!
És rosa e não tens espinhos!
Ai, que não te entendo, flor.
Almeida Garrett
in Um Ramo de Rosas -- Colhidas por José da Cruz Santos na Poesia Portuguesa e Estrangeira, Porto, Modo de Ler, 2010, p. 18.
(lido na sessão de 4 de Maio de 2012)
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