2 de novembro de 2012

PORQUE, Sophia de Mello Breyner Andresen

Porque os outros se mascaram mas tu não.
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se comprem e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.


Caminhos da Moderna Poesia Portuguesa, edição de Ana Hatherly, Lisboa, Direcção-Geral do Ensino Primário, 1961, p. 96.

(lido na sessão de 12 de Outubro de 2012)

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