Trindade Coelho, Os Meus Amores [1891], Mem Martins, Publicações Europa-América, s.d.
A Curva dos Livros
Blog do Clube de Leitura do Museu Ferreira de Castro
2 de abril de 2025
as aberturas de OS MEUS AMORES
1 de abril de 2025
as aberturas de BICHOS
Miguel Torga, Bichos (1940), 19.ª ed, Coimbra, 1995
31 de março de 2025
"Ribatejo e Estremadura -- Imagens do Ambiente Natural e Humano na Literatura de Ficção"
Colecção que tem como principal coordenadora a nossa colega Ana Cristina Carvalho, o volumes respeitante ao Ribatejo e à Estremadura será apresentado no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, no próximo sábado, pelas 16 horas.
28 de março de 2025
as aberturas de PALAVRAS NÓMADAS
Dora Nunes Gago, Palavras Nómadas, Vila Nova de Famalicão, Húmus, 2023.
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27 de março de 2025
101 poemas portugueses - #62
QUATRO
(Em memória do grande Amigo
Joaquim Manuel Maia de Jesus)
A rosa vermelha última a que te prendeste
A rosa vermelha nas mãos duma menina
Aquela maçã que tu deste e não comeste
E nestes quatro versos está a tua sina
Partiu-se a lua num quarto desesperado
E entrou louca pelo quatro vidros do hospital
Quatro homens levaram teu corpo gelado
E a menina escondeu duas mãos no avental
Ali na encruzilhada de todos os ventos
Tristes contando às ondas tão triste nova
Braços de pinheiros bravos foram lamentos
À rosa dos ventos lendo a verdade toda
Só aquela cadela que corria ao luar
Anda a uivar pelos caminhos a tua morte
São quatro patas pelo chão a caminhar
Arrastando a raiva humana da tua sorte.
Matilde Rosa Araújo (Lisboa, 1921-2010),
As Folhas de Poesia Távola Redonda
(edição de António Manuel Couto Viana, 1988)
17 de março de 2025
"Ferreira de Castro lido por Jaime Brasil"
9 de março de 2025
101 poemas portugueses - #61
NATAL DE POBRES
Quando a mulher adormeceu
naquela noite de Natal,
o homem foi, pé ante pé,
pôr um sapato (dela, não seu)
com um embrulho de jornal
na lareirinha da chaminé.
Um casal pobre... um ano mau...
Era um pedaço de bacalhau.
Ora alta noite, pela janela,
com fome e frio, entrou um gato
que, no escuro, cheirando aquela
comida boa no sapato,
rasgou o embrulho, comeu, comeu
e, quente e farto, adormeceu.
De manhã cedo, ela acordou,
foi à cozinha e viu o gatinho
adormecido no seu sapato.
Voltando ao quarto, feliz, falou
para o seu homem: -- Meu amorzinho,
como soubeste que eu queria um gato?
Leonel Neves (Faro, 1921 - Odiáxere, Lagos, 1996),
O Menino e as Estrelas (1979)
27 de fevereiro de 2025
pedra-de-toque #15
«Aprendi com o povo e com a vida, sou um escritor e não um literato, em verdade sou um obá -- em língua iorubá da Bahia obá significa ministro, velho, sábio: sábio da sabedoria do povo.»
Jorge Amado, Navegação de Cabotagem (1992)
25 de fevereiro de 2025
LINHAS ENTRE NÓS em audiolivro
Atento às pessoas que gostam de livros, mas que, por qualquer razão, preferem via auditiva, acaba de oferecer ao público a 3.ª edição, por duas vias:
- em Internet Archive, ficheiros MP3 (aceder, em download options selecionar VBR MP3, clicar no botão de descarga 20 files e aguardar até ao fim); com esta opção, pode escutar os ficheiros posteriormente, a partir do seu computador ou outro aparelho;
- em Spotify, em corrente / streaming (escuta on-line a partir de qualquer dispositivo, como um podcast comum).
Para quem prefira esta via, dispõe ainda das seguintes alternativas:
- a Internet Archive (que disponibiliza as duas possibilidades);
- a Apple Podcasts;
- a Listen Notes;
- a Ivoox;
- a Rephonic.
- a Audiofiction
- a Radio.pt
O audiolivro é fruto de um projeto no âmbito da ACTIS - Universidade Sénior de Sintra, e graças à gentileza dos estúdios da RCS - Rádio Clube de Sintra, dedicado a si.
Use sem reservas e partilhe com pessoas a quem possa interessar.
20 de fevereiro de 2025
101 poemas portugueses - #59
LUSITÃNIA
11 de fevereiro de 2025
101 poemas portugueses #60
Cada poema
cada desenho
são os marinheiros que navegaram na minha cama
são uma revolução não só gritada na rua
são uma flor nascendo nos campos
e é o luar e a sua magia
e é a morte que não me quer
e é UMA MULHER
surpreendente como um marinheiro
luminosa como a palavra REVOLUÇÃO
tão natural como o malmequer
tão metafísica como o luar
tão desejada como a morte hoje
A MINHA MÃE
infinita e profunda
como o mar.
Artur do Cruzeiro Seixas (Amadora, 1920 - Lisboa, 2020)
Obra Poética I (2002)
7 de fevereiro de 2025
o início de MONTEVIDEU
1 de fevereiro de 2025
pedra-de-toque #14
«A Beleza como dever, a coragem como único caminho para o futuro.»
Rui Chafes, «O perfume das buganvílias», Entre o Céu e a Terra (2012)
28 de janeiro de 2025
as aberturas de CONTOS EXEMPLARES
Sophia de Mello Breyner Andresen, Contos Exemplares [1962], 4.ª ed., Lisboa, Portugália, s.d.
23 de janeiro de 2025
101 poemas portugueses #58
O SONHO SEM DESTINO
Se os caminhos são breves
e os dias tão compridos,
e as tuas mãos mais leves
que a espuma dos vestidos;
se é de ti que me ondeia
uma brisa subtil...
E a vaga diz: -- Sereia!
E o sonho diz: -- Abril!
Se cresces e dominas
os campos que acalento,
e inundas as colinas
de fontes que eu invento;
se tens na luz dos olhos
o misterioso apelo
das cidades de fogo,
das cidades de gelo;
se podes bem guardar
na tua mão fechada
o meu altivo Tudo
e o meu imenso Nada;
se cabe nos meus braços
a bruma que tu és,
e em algas e sargaços
te abraço nas marés;
se, puro, na presença
da nossa grande Casa,
pões na voz de horizonte
um lume de asa e brasa.
Não sei porque te sonho
na sombra matinal,
e ao meu lado te vejo,
real e irreal.
Sabeis -- adaga fria,
que ao meu peito cintilas --
onde se oculta o dia
das aragens tranquilas?
Se tudo sabes, mata
com dedos de oiro fino,
ou com gume de prata,
o sonho sem destino!
Natércia Freire (Benavente, 1919 - Lisboa, 2004)
Anel de Sete Pedras (1952 /
/ in Ana Hatherly, Caminhos da Moderna Poesia Portuguesa (1960)
14 de janeiro de 2025
pedra-de-toque #13
«Eu, muito simplesmente, emagrecia porque as nuvens que me alimentavam andavam cada dia mais escassas.»
Félix Cucurull, «Carta de despedida», Antologia do Conto Moderno; trad. Manuel de Seabra
13 de janeiro de 2025
101 poemas portugueses #57
FESTA ALEGÓRICA
O bobo do imperador Maximiliano
organizou uma festa alegórica
que o povo e a corte de soberano à frente
saborearam em grandes gargalhadas:
juntou na praça todo o cego pobre,
prendeu a um poste um porco muito gordo,
e anunciou ganhar o dito porco aquele
que à paulada o matasse. Os cegos todos
a varapau se esmocaram uns aos outros,
sem acertar no porco por serem cegos,
mas uns nos outros por humanos serem.
A festa acabou numa sangueira total:
porém havia muito tempo que o imperador
e a corte e o povo não se riam tanto.
O bobo, esse tinha por dever bem pago
o fabricar as piadas para fazer rir.
SB, 7/1/74
4 de janeiro de 2025
pedra-de-toque #12
«É impossível que certas flores sejam filhas das grosseiras plantas de que brotam.»
Fialho de Almeida, O País das Uvas (1893)
2 de janeiro de 2025
o início de EU À SOMBRA DA FIGUEIRA DA ÍNDIA
10 de dezembro de 2024
Pelo Tejo vai-se para o mundo (04)
pedra-de-toque #11
«Acabou a festa; é como se acabasse um clarão intenso, e deixasse o rosto apenas alumiado da luz ordinária.»
Machado de Assis, «Cantiga de esponsais», Histórias sem Data (1884)
8 de dezembro de 2024
101 poemas portugueses #56
POEMA DA VOZ QUE ESCUTA
Chamam-me lá em baixo.
São as coisas que não puderam decorar-me:
As que ficaram a mirar-me longamente
E não acreditaram;
As que sem coração, no relâmpago do grito,
Não poderam colher-me.
Chamam-me lá em baixo,
Quase ao nível do mar, quase à beira do mar,
Onde a multidão formiga
Sem saber nadar.
Chamam-me lá em baixo
Onde tudo é vigoroso e opaco pelo dia adiante
E transparente e desgraçado e vil
Quando a noite vem, criança distraída,
Que debilmente apaga os traços brancos
Deste quadro negro -- a Vida.
Chamam-me lá em baixo:
Voz de coisas, voz de luta.
É uma voz que estala e mansamente cala
E me escuta.
Março de 1939
Políbio Gomes dos Santos (Ansião, 1911-1939)
A Voz que Escuta (1944)
6 de dezembro de 2024
29 de novembro de 2024
101 poemas portugueses - #55
SONETO
Eu tenho a pagar 10 e na carteira
Apenas tenho 8. Eis a arrelia.
Eis-me buscando em mente uma maneira
De pagar o que devo em demasia.
E fico às vezes nisto todo o dia,
Um dia inteirinho em estúpida canseira.
Se busco distrair-me, de vigia,
Olha-me a rir a dívida grosseira.
E entretanto na rua vão passando
Carros de luxo, altivos salpicando
O lodaçal dos trilhos sobre mim...
E sinto, na revolta, o algarismo,
Do trono do brutal capitalismo,
A rir de nós, os bobos do festim!
Rui de Noronha (Lourenço Marques [Maputo], 1906-1943),
in Manuel Ferreira, No Reino de Caliban III (1996)
25 de novembro de 2024
pedra de toque #10
«Almas, desesperos, ambições, impotências -- e a trégua desta noite, em volta da lareira.»
Ferreira de Castro, «O Natal em Ossela», (1932/1974), Os Fragmentos
24 de novembro de 2024
101 POEMAS PORTUGUESES . #54
INSTANTE
A cena é muda e breve:
Num lameiro,
Um cordeiro
A pastar ao de leve.
Embevecida,
A mãe ovelha deixa de remoer
E a vida
Pára também, a ver.
Miguel Torga (São Martinho de Anta, Sabrosa, 1907 - Coimbra, 1995)
Diário I (1941)
15 de novembro de 2024
pedra de toque - #9
«Mary virara-se outra vez de costas e Giovanni quis adivinhar-lhe a direcção dos olhos, acompanhá-los depois no voo extasiado que terminava na torre do Palazzo Vecchio.»
Augusto Abelaira, A Cidade das Flores, 1959
13 de novembro de 2024
101 poemas portugueses - #53
PARTIR!,,,
Já sei de cor os passos de cada dia,
na boca as mesmas palavras
batidas nos meus ouvidos...
-- Ai as desgraças humanas destas paisagens iguais!...
Abro os olhos e não vejo
já não ando, já não oiço...
Não posso mais...
Grita-me a Vida de longe
e eu vou-me embora para além do Tejo.
Passa a ave no céu bebendo azul e diz: Vem!
O vento envolve-me numa carícia,
envolve-me e murmura: -- Vem!
As ondas estalam nas praias e vão mar fora,
as mãos de espuma a prender-me os sentidos
chamam no fundo dos meus olhos: -- Vem!
-- Camaradas, eu vou, esperai um pouco...
Ai, mas a vida nunca espera por ninguém...
E a noite chega vingadora;
o vento rasga-me o fato,
as ondas molham-me a carne
e a ave pia misticamente no ar;
abro os olhos e não vejo,
já não ando, já não oiço
-- e fico, desgraçado de ficar!...
7 de novembro de 2024
pedra-de-toque #8
«Súbito, uma revoada de vozes escapou-se em surdina do âmago da igreja e derramou pelo claustros o clamor inquietante duma dolência arrastada.»
Manuel Ribeiro, A Catedral, 1920
29 de outubro de 2024
pedra-de-toque #7
«O automóvel roda apressado, galgando covas, trepidando, queixando-se da aspereza do caminho.»
Adelino Mendes, «A cidade d'Albert», A Capital, Lisboa, 29-III-1917