8 de julho de 2014

"memórias de uma estranha primavera"

Testemunho romanceado da vida de seminarista que o autor conheceu na juventude. A meu ver, a leitura fará mais sentido encarada como relato memorialístico do que como ficção, apesar de existirem elementos ficcionais (e até de fantástico, como um viajante no tempo sob o qual a narrativa se estrutura). O subtítulo, Memórias de uma Estranha Primavera, é, aliás, bastante claro.  
Um aspecto interessante do livro é o da não coincidência com outros textos de temática idêntica sobre a vida nos seminários, habitualmente mais negros. Não que o trauma não esteja presente -- nada mais natural num universo disciplinador vivido durante a adolescência; porém, a narrativa é destituída dos episódios escabrosos que à partida aguardamos, quando se trata de seminários ou internatos. (Preconceito, ou sorte de quem viveu esta história concreta?) Há passagens particularmente interessantes, entre as quais destaco as que giram em torno do afastamento da casa e da família, das saudades lancinantes, que afloram como a mais dolorosa provação de Filinto, ou seja, o autor. 
Fernando Faria,  As Viagens de Filinto, Lisboa, Chiado Editora, 2013

5 comentários:

  1. Obrigado pelo comentário (e pela leitura!)

    Compreendo bem a estranheza! No entanto, há que ter em consideração que, como bem titula (e eu sub-titulei), se trata de memórias de uma Primavera (ainda que estranha). Apesar de muitas tormentas, foi a minha Primavera. Não tivesse sido aquela, que outra teria sido? Nalguns aspectos, receio que pior ainda...
    Com toda a carga negativa e traumática, indelével sem dúvida, a minha passagem pelo seminário abriu-me, apesar de tudo, alguns horizontes.
    Caso não tivesse entrado no seminário, não faço ideia do que seria hoje. Quem sabe se um mestre de obras retirado, talvez bronco, com o esqueleto todo lixado e as mãos cheias de calos... (Lembro-me que antes de pensar ir para o seminário, e quando me perguntavam o que queria ser quando fosse grande, responder que queria ser pedreiro! E pelo andar da carruagem...)

    Por isso tudo, acabo por encontrar alguns motivos de gratidão... Serei "ceguinho"?

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    1. Eu defendo a teoria de que
      Não há nada que seja totalmente mau, nem nada que seja totalmente bom.
      Importante, é mantermos sempre o sentido crítico e aproveitarmos o que interessa!

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    2. Creio que esse equilíbrio é notório e, por isso, um mérito da narativa.
      Também estou de acordo consigo: (quase) tudo é passível de ser ponderado sob diversas perspectivas. O sentido crítico é uma felicidade para quem o tem desenvolvido.

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  2. Nem todos são capazes de não cuspir na sopa... mesmo que um tanto azeda, mata a fome, mal maior.

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