AMOR
Amor, amor, amor, como não amam
os que de amor o amor de amar não
sabem,
como não amam se de amor não pensam
os que de amar o amor de amar não
gozam.
Amor, amor, nenhum amor, nenhum
em vez do sempre amar que o gesto
prende
o olhar ao corpo que perpassa amante
e não será de amor se outro não for
que novamente passe como amor que é
novo.
Não se ama o que se tem nem se deseja
o que não temos nesse amor que amamos,
mas só amamos quando amamos o acto
em que de amor o amor de amar se
cumpre.
Amor, amor, nem antes, nem depois,
amor que não possui, amor que não se
dá,
amor que dura apenas sem palavras
tudo
o que no sexo é o sexo só por si
amado.
Amor de amor de amar de amor
tranquilamente
o oleoso repetir das carnes que se
roçam
até ao instante em que paradas tremem
de ansioso terminar o amor que
recomeça.
Amor, amor, amor, como não amam
os que de amar o amor de amar o amor
não amam.
JORGE DE SENA - Peregrinatio ad loca infecta (1969)
É infinitamente mais simples e diverso, ao mesmo tempo. E coisas «que se roçam» pode ser consequência de um dos tipos, ou pode não ter a ver nada com amor; até pode ser vingança ou desprezo..
ResponderEliminarEm conclusão: se não em pleno desacordo, um mar de reticências.
José Serra
"mas só amamos quando amamos o acto" - o sujeito lírico reflecte o sentimento do autor empírico: com a prole que deitou ao mundo (um proletário!☺) devia amar o acto sem preocupações. Depois teve de trabalhar como um mouro (acho que esta expressão não é politicamente correcta 😶) para criar a filharada que amava.
EliminarObrigado, caro amigo, pelo comentário.
Outros poemas do Sena aparecem também com a repetição até à exaustão, e o resultado é sempre bom.
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