27 de agosto de 2024

LIRA MAIOR (5)

 

HORICLOR

 

Caem das gargantas negras as plumas

com que Horiclor se enfeita e se perfuma.

O tempo ondula a sua face lisa

em que pousam os pássaros anónimos.

Ele lava os presságios e o motor da aurora

e desafia o vazio com um arco-íris de nomes.

A partitura do vento, dos eclipses e distâncias

é um jogo em suas mãos de embriagado aeronauta.

Quando o silêncio da terra é absoluto

desenha ovelhas ou apenas uma árvore.

Outras vezes faz tremular uma bandeira de miséria

e sonho. Ele sabe onde se esconde a flor que nasce

do sexo das sereias e conhece a eloquência das magnólias.

Às vezes deseja que sopre um vento desesperado e se apaguem as estrelas

e um túmulo se abra com uma onda no meio.

O seu pensamento é inundado por rios subterrâneos

e as suas palavras brotam de uma pequena lâmpada situada no horizonte.

Então o vento abre os olhos e as torres incendeiam-se.

 

ANTÓNIO RAMOS ROSA – Nomes de Ninguém (1997)


2 comentários:

  1. Poesia. Não convencional. De intensa liberdade estética. O poema como morada do ser.

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