RAPARIGA DAS TRANÇAS
Rapariga
bonita
bem sei o que esperas
e as esperanças
que pões
nos laços das tranças
Bem sei porque ris
sem se ver porquê
nem para quem nem para quê
Bem sei porque enfuna
a tua saia transparente
e porque se solta
a música e o mar
do balouçar
das tuas tranças
Andando danças
andando danças
andando danças
E pensar rapariga nas ciladas
que te estão há tanto tempo preparadas
na vida sem vida
que te hão-de querer
Não és tu quem faz contas
por trás da janela
nem tu que te julgas
um livro de cheques
(ainda não
ainda não)
Ah as saias pesadas para a terra
e os braços
sem vigor
Ah o rosto cortado de cansaços
Ah o enjoo dessa palavra amor
Ah o sono logo em cima do jantar
e a bicha do carvão a bicha do carvão
a bicha do carvão
Rapariga
bonita
de fita encarnada
hão-de algemar-te
os lábios
os seios
a música e o mar
de braços atados
Oh rapariga
de fita amarela
dá-te ao minuto
o sol é bom
salta a janela
que nunca mais este minuto voltará
Rapariga bonita
que andando danças
rapariga bonita
bonita bonita
de laços nas tranças
MÁRIO DIONÍSIO – As Solicitações e Emboscadas (1945)
Temos, então, uma nova série -- esplêndido!
ResponderEliminarA minha está de férias.