Era um velho que pescava sòzinho num esquife da Corrente do Golfo, e saíra havia já por oitenta e quatro dias sem apanhar um peixe. Nos primeiros quarenta dias um rapaz fora com ele. Mas, após quarenta dias sem um peixe, os pais do rapaz disseram a este que o velho estava definitivamente e declaradamente salao, o que é a pior forma de azar, e o rapaz fora por ordem deles para outro barco que na primeira semana logo apanhou três belos peixes. Fazia tristeza ao rapaz ver todos os dias o velho voltar com o esquife vazio e sempre descia a ajudá-lo a trazer as linhas arrumadas ou o croque e o arpão e a vela enrolada no mastro. A vela estava remendada com quatro sacos de farinha e, assim ferrada, parecia o estandarte da perpétua derrota.
Ernest Hemingway, O Velho e o Mar, tradução de Jorge de Sena, Lisboa, Livros do Brasil, s. d., pp. 7-8.
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