Livro híbrido, como indica o subtítulo, completando a designação principal da obra: fragmento, o que ficou estilhaçado, o que não se completou. Trata-se de um melancólico acerto de contas de Ferreira de Castro com uma parte do trabalho literário (e também jornalístico) que a Censura suprimiu.
Morto em 29 de Junho de 1974, o percurso do autor de A Selva foi marcado por essa circunstância, de Emigrantes (1928) a O Instinto Supremo (1968) -- e mesmo estes fragmentos tiveram de aguardar pela revolução do 25 de Abril para que pudessem ver a luz do dia.
Morto em 29 de Junho de 1974, o percurso do autor de A Selva foi marcado por essa circunstância, de Emigrantes (1928) a O Instinto Supremo (1968) -- e mesmo estes fragmentos tiveram de aguardar pela revolução do 25 de Abril para que pudessem ver a luz do dia.
Foi importante termos lido no ano passado os textos dos Ecos da Semana, crónicas publicadas no suplemento de A Batalha, entre 1924 e 1926, para verificarmos que, descontado o arrebatamento quase juvenil desses escritos anarquistas, Ferreira de Castro, se manteve visceralmente libertário.
Presumo que ele soubesse que este livro não acrescentaria nada à relevância da sua obra literária e do lugar que ela ocupa na ficção narrativa portuguesa novecentista; mas fora-lhe um imperativo a subtracção desses textos ao esquecimento:
O Intervalo, o tal romance com pano de fundo na Revolta da Andaluzia (1931), que fazia parte dum painel mais vasto, intitulado «Biografia do Século XX», nunca concretizado, com pretexto para a contextualização epocal em «Origem de "O Intervalo"»;
«O Natal em Ossela», inofensivo (ou nem por isso...) conto alusivo à quadra, que não escapou ao lápis azul, motivando uma importante reflexão a propósito do sentido de pertença a essa «Aldeia Nativa», para além dos artifícios nacionalistas;
o sensacional «Historial da Velha Mina», evocação duma reportagem nunca publicada junto dos homens das Minas de São Domingos, exploradas por capital britânico; e sensacional, acima de tudo, pela extrema contensão do tom castriano, característica da generalidade da sua escrita madura.
Os Fragmentos são, pois, a um tempo, testemunho, (re)afirmação de um ideário e de uma concepção da literatura impregnada de sentido no tempo que lhe coube.
Presumo que ele soubesse que este livro não acrescentaria nada à relevância da sua obra literária e do lugar que ela ocupa na ficção narrativa portuguesa novecentista; mas fora-lhe um imperativo a subtracção desses textos ao esquecimento:
O Intervalo, o tal romance com pano de fundo na Revolta da Andaluzia (1931), que fazia parte dum painel mais vasto, intitulado «Biografia do Século XX», nunca concretizado, com pretexto para a contextualização epocal em «Origem de "O Intervalo"»;
«O Natal em Ossela», inofensivo (ou nem por isso...) conto alusivo à quadra, que não escapou ao lápis azul, motivando uma importante reflexão a propósito do sentido de pertença a essa «Aldeia Nativa», para além dos artifícios nacionalistas;
o sensacional «Historial da Velha Mina», evocação duma reportagem nunca publicada junto dos homens das Minas de São Domingos, exploradas por capital britânico; e sensacional, acima de tudo, pela extrema contensão do tom castriano, característica da generalidade da sua escrita madura.
Os Fragmentos são, pois, a um tempo, testemunho, (re)afirmação de um ideário e de uma concepção da literatura impregnada de sentido no tempo que lhe coube.
Vou mesmo ter de reler...
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