PROSA, VERSO E VERSOS ERRADOS Mário de Andrade, o fundador do desvairismo, no seu "Prefácio interessantíssimo": «Preocupação de métrica e de rima prejudica a naturalidade livre do lirismo objectivado»; «Não acho mais graça nenhuma nisso de a gente submeter comoções a um leito de Procusto para que obtenha, em ritmo convencional, número convencional de sílabas». E o Caeiro dizia:«Por mim, escrevo a prosa dos meus versos / E fico contente,» :)
E ora bem! Creio, no entanto, que o Junqueiro não se referiria a delitos de metrificação. Teria de voltar ao texto, que tenho em casa, e agora estou a mais de 400 quilómetros dela...
A poesia é uma intenção. Se o poeta constrói um texto e diz: isto é poesia, temos de admiti-lo. O outros artefactos ou estâo lá, naturalmente, ou, não. A "luta" da minha geração em 74 foi precisamente pela libertação do verso. "publico-te isso se tirares daí a rima"...;O Colóquio " Ao Encontro da Poesia" em 73 acendeu essa questão e tece luta acesa com velhos Dantas...E hoje como estamos? Os versos livres serão realmente livres? Aqui ficam estas achas.
74 foi cinquenta anos depois do modernismo de Mário de Andrade (1922). Naquele tempo tinham piada esses fundamentalismos (chamemos-lhe assim), nos anos setenta nem tanto. O Dantas, coitado, estava morto e enterrado. Entre nós, até o engenheiro naval por Glasgow da última fase (1931-35) escrevia sonetos com metro e rima. E na semana passada, ouvi o Eugénio Lisboa dizer que os poetas americanos de hoje encontram na rima e no verso medido elementos fundamentais do fazer poético. Ele lá sabe, eu não que não os leio. Ao contrário de tais americanos, um dia destes trago aqui o João Luís Barreto Guimarães, Prémio Pessoa de 2022. Depois digam o que quiserem :)
Estou totalmente de acordo com a ideia de que a poesia é intenção, independentemente de quaisquer fórmulas. Aliás, quanto poetas modernos, a começar pelo Pessoa e a continuar no António Botto, depois o Carlos de Oliveira o Rui Knopfli e tantos outros, ensaiaram fórmulas antigas e clássicas. maxime, o soneto? O que para mim é verdadeiramente antipoético desde então é o postiço das imposições e a falta de personalidade, o querer agradar ou não querer agredir. Viva a Revolução e viva também a Reacção! Claro que tudo se salva ou tudo rui consoante o talento e o estro de cada um. Um mau poeta sê-lo-á, para além da forma.
Eu acho que o Eugénio Lisboa tem toda a razão, pois não me parece que ele queira impôr nada; como você diz, Manuel, nos anos 70 já não tinham piada nenhuma.
Gosto muito de boa parte da poesia e da poética do JL Barreto Guimarães. Nenhum poema dele nos meus 101, hélas...
PROSA, VERSO E VERSOS ERRADOS
ResponderEliminarMário de Andrade, o fundador do desvairismo, no seu
"Prefácio interessantíssimo": «Preocupação de métrica e de rima prejudica a naturalidade livre do lirismo objectivado»; «Não acho mais graça nenhuma nisso de a gente submeter comoções a um leito de Procusto para que obtenha, em ritmo convencional, número convencional de sílabas».
E o Caeiro dizia:«Por mim, escrevo a prosa dos meus versos / E fico contente,»
:)
E ora bem! Creio, no entanto, que o Junqueiro não se referiria a delitos de metrificação. Teria de voltar ao texto, que tenho em casa, e agora estou a mais de 400 quilómetros dela...
EliminarA poesia é uma intenção. Se o poeta constrói um texto e diz: isto é poesia, temos de admiti-lo. O outros artefactos ou estâo lá, naturalmente, ou, não. A "luta" da minha geração em 74 foi precisamente pela libertação do verso. "publico-te isso se tirares daí a rima"...;O Colóquio " Ao Encontro da Poesia" em 73 acendeu essa questão e tece luta acesa com velhos Dantas...E hoje como estamos? Os versos livres serão realmente livres? Aqui ficam estas achas.
ResponderEliminar74 foi cinquenta anos depois do modernismo de Mário de Andrade (1922). Naquele tempo tinham piada esses fundamentalismos (chamemos-lhe assim), nos anos setenta nem tanto. O Dantas, coitado, estava morto e enterrado. Entre nós, até o engenheiro naval por Glasgow da última fase (1931-35) escrevia sonetos com metro e rima. E na semana passada, ouvi o Eugénio Lisboa dizer que os poetas americanos de hoje encontram na rima e no verso medido elementos fundamentais do fazer poético. Ele lá sabe, eu não que não os leio. Ao contrário de tais americanos, um dia destes trago aqui o João Luís Barreto Guimarães, Prémio Pessoa de 2022. Depois digam o que quiserem :)
EliminarEstou totalmente de acordo com a ideia de que a poesia é intenção, independentemente de quaisquer fórmulas. Aliás, quanto poetas modernos, a começar pelo Pessoa e a continuar no António Botto, depois o Carlos de Oliveira o Rui Knopfli e tantos outros, ensaiaram fórmulas antigas e clássicas. maxime, o soneto?
EliminarO que para mim é verdadeiramente antipoético desde então é o postiço das imposições e a falta de personalidade, o querer agradar ou não querer agredir. Viva a Revolução e viva também a Reacção!
Claro que tudo se salva ou tudo rui consoante o talento e o estro de cada um. Um mau poeta sê-lo-á, para além da forma.
Eu acho que o Eugénio Lisboa tem toda a razão, pois não me parece que ele queira impôr nada; como você diz, Manuel, nos anos 70 já não tinham piada nenhuma.
Gosto muito de boa parte da poesia e da poética do JL Barreto Guimarães. Nenhum poema dele nos meus 101, hélas...
Estou tentado a subscrever a preposição de Junqueiro, substituindo «porque» por «se».
ResponderEliminarNeste caso, meu caro, o 'se' implicaria a possibilidade de uma ausência de poesia, o que invalidaria o verso, e portanto a asserção junqueiriana...
EliminarDesculpem-me os sábios comentadores, mas a poesia tem que ser mais que uma intenção... E não basta que o autor lhe chame poesia para o ser. Acho eu...
ResponderEliminarMais do que um ensaio, o seu comentário justificaria um tratado...
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