Tragam-me um homem que me levante com
os olhos
que em mim deposite o fim da tragédia
com a graça de um balão acabado de
encher
tragam-me um homem que venha em
baldes,
solto e líquido para se misturar em
mim
com a fé nupcial de rapaz prometido a
despir-se
leve, leve, um principiante de
pássaro
tragam-me um homem que me ame em
círculos
que me ame em medos, que me ame em
risos
que me ame em autocarros de roda no
precipício
e me devolva as olheiras em gratidão
de
estarmos vivos
um homem homem, um homem criança
um homem mulher
um homem florido de noites nos
cabelos
um homem aquático em lume e inteiro
um homem casa, um homem inverno
um homem com boca de crepúsculo
inclinado
de coração prefácio à espera de ser
escrito
tragam-me um homem que me queira em
mim
que eu erga em hemisférios e espalhe
e cante
um homem mundo onde me possa perder
e que dedo a dedo me tire as farpas
dos olhos
atirando-me à ilusão de sermos duas
novíssimas nuvens em pé.
CLÁUDIA R. SAMPAIO (1981), Ver no Escuro (2021)
Isto tem força; é um poema de carne e osso.
ResponderEliminarMais uma que desconhecia e que vale a pena conhecer...
ResponderEliminarEste poema e esta poeta ❤️
ResponderEliminarMas parece-me que procura um anjo, porque bípedes, assim, acho que não há.
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