AVÉ AVA
Cântico para Ava Gardner
és ava com cheiro a erva
com corpo de garça
e memória de eva
és ava com suor maduro
enxameando um olhar convexo
és eva vestida de sexo
és ava e estátua grega
animal acossado nas plateias
és eva brincando à cabra-cega
és ava com partículas de fogo
água soberba na enchente dos rios
incêndio de carne no calor dos estios
és ava ou ave ou sequer
uma santa de porcelana branca
disfarçada com pele de mulher
és ava e podias ser um objecto
um símbolo uma lembrança o ritual
da paixão vestindo o desejo de afecto
és ava eva com os ombros nús
olhos apelando à saliva quente
no silêncio escuro dos cinemas
és ave eva ava de pele macia
a noite mansa despida sob o lençol
esperando que jamais se faça dia
JOSÉ ANTÓNIO GONÇALVES, tem o poder da água, Editorial Éter, Lisboa, 1996.
Poema originário de "Os Pássaros Breves " da Átrio, Lisboa 1995 e agora coligido em "Tem o Poder da Água", obra poética (1973-1995) . Nasceu no Funchal em 1954 foi jornalista e poeta, presidente da Associação de Escritores da Madeira e membro da Direcção da Associação Portuguesa de Escritores.
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Ainda não li este poeta mas gostei do poema.
EliminarMuito bom.
ResponderEliminarAva Gardner, Eva de tantos paraísos.
ResponderEliminarTeve a virtude de me ter furado o arquivo de memórias para expor a defunta paixão babada por Gigliola Cinquetti e a doçura imorredoira de Non Ho L' Eta; no meu caso, mais platónica.
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