MENOPAUSA
Ando a tentar que o verão não morra
me dê calor mais do que afrontamento
me dê mais sumo do que mosto finto
e o sal na flor da pele não sorva ao
corpo
o choro; que seja mar com luzentes
panos e seja ainda franco o espaço
da cabeça em espuma; que a folha
estale
e não se suste em brancas reticentes
não caia sem palavra crespo nervo
só esqueleto, boca avara, azedume
e a vasta aridez de medo pelas
notícias. Restem-me balas e velas
onde o sangue seca e me conserve
velha a acicatar no lume os répteis.
MARGARIDA VALE DE GATO (1973), Atirar para o Torto (2021)
Grande manejo de palavras e sons.
ResponderEliminarPouco conheço desta poeta, também tradutora e detentora de assinalável currículo académico. Só li "Atirar para o Torto", e ainda não todo. Vamos descobrindo.
ResponderEliminarJa a ouvi e vi num dia mundial da poesia no ccb.Tem impacto. Gostei.
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