CAMINHO
Tenho sonhos cruéis n'alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...
Saudades desta dor que em vão procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me coração dum véu escuro!...
Porque a dor, esta falta de harmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu de agora,
Sem ela o coração é quase nada:
- Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora.
CAMILO PESSANHA, Clépsidra
Uma música que era só dele; e não admira nada que o Pessoa tanto o admirasse.
ResponderEliminarEstava a reler: um certo Pessoa, um certo Sá-Carneiro, uma certa Florbela concentrados que dá este poema magnífico. Mas Pessanha a montante, não a jusante.
EliminarSem dúvida.
EliminarUm poema que, em cada releitura, mais se desdobra...
A angústia ontológica, que vem do fundo da alma. Um mundo tão belo... e depois?
Claro Pessanha tem sempre encantos e descobertas na sua musical e plástica névoa ...do ser. Mas, o Fernando disse tudo "angústia ontolôgica".
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