TANTAS CIDADES A QUE DEVÍAMOS TER IDO
O nosso sonho é feito de cidades cultas,
com música e cafés familiares,
a majestade de um porto e estações
de ferro e de vidro com comboios brunidos pela noite
e pela chuva, a mesma chuva
que nos acompanha num pequeno hotel
ou nas janelas de um museu.
Há recantos ao abrigo de grandes árvores,
gente calada, educada e bem vestida
e as silenciosas livrarias
onde os olhos vagueiam enquanto cai a tarde.
Tantas cidades onde devíamos ter ido, meu amor.
A lua emerge para lá daquelas pontes de ferro
dos anos que mudaram a nossa lei.
Desde então o tempo é uma chuva
que nos inunda como inunda os telhados.
Mas na luz do pátio vemos os templos
de mármore branco e dourado travertino.
Encontramos, nas ruas de pequenas aldeias,
faustosos estuques cor de terra
esgrafiados pelo vento. Esta casa
da varanda e do pátio tem uma luz
de conversas e conforto. De nós,
aquele que ficar terá por companhia
a memória do cipreste e das heras
até nos reencontrarmos nas cidades do sonho.
Joan Margarit em L'Ordre Del Temps (1975-1986)
Da antologia Misteriosamente Feliz (Língua Morta, 2015)
Esplêndido poema, poema de arquitecto, soube agora.
ResponderEliminarGosto muito deste poeta catalão 🙂
EliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminar«Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
ResponderEliminar«Para além do Tejo há a América
«E a fortuna daqueles que a encontram.» - Ah Caeiro!
Belo título para a série.
Caeiro, pois ❤️ O heterónimo que mais gosto. A par de Campos 🙂
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