23 de dezembro de 2023

101 poemas portugueses - #14


MERINA

Rosto comprido, airosa, angelical, macia,
Por vezes, a alemã que eu sigo e que me agrada,
Mais alva que o luar de Inverno que me esfria,
Nas ruas a que o gás dá noites de balada;
Sob os abafos bons que o Norte escolheria,
Com seu passinho curto e em suas lãs forrada,
Recorda-me a elegância, a graça, a galhardia
De uma ovelhinha branca, ingénua e delicada.

Cesário Verde (Lisboa, 1855-1866)
O Livro de Cesário Verde (1867)

10 comentários:

  1. No “Livro” de Cesário aparecem estas mulheres aparentemente intangíveis. Além de `Merina`, ver os poemas `Cabelos`, `Sardenta`, ´Deslumbramentos`,`A Débil`,`Frígida`, ´Esplêndida`, `Lúbrica`, `Vaidosa`… O Caeiro tinha pena dele, via-o como «um camponês / que andava preso em liberdade pela cidade». Coitado, o gás nauseante também não ajudava nada.

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    1. Uma das muitas razões porque gosto dele, o apetite desenfreado pelo belo sexo (parece que já não se pode dizer, e é por isso mesmo que o escrevo). O Caeiro era um maravilhoso campestre a quem estas coisas aturdiam.

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    2. O Caeiro teve a sua fase de 'pastor amoroso': ver e amar a natureza já com uma companhia. Para além disso, ele lia o livro de Cesário Verde até lhe arderem os olhos (poema III do Guardador de Rebanhos).

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    3. Epá, já não me lembro de nada disso... tenho de lá voltar.

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  2. Foi a este que um certo (e, nesse caso, auto-proclamado) mestre chamou 'verde'?

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    1. Foi, mas já não sei se ortónimo e/ou heterónimo...

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  3. Um dos poetas que mais gostei de estudar. Cesário Verde. A influência de Baudelaire valeu-lhe uma valente crítica de Ramalho Ortigão. Sugeria que fosse mais ele (Cesário) e menos verde. Ortigão e as suas farpas 😄

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    1. O Ramalho era um figurão, Como escritor nada de deitar fora, no entanto. Mas a amizade cúmplice com o Eça foi o seu seguro de sobrevida. Também é lembrado pela crítica desastrada ao Cesário. Acontece aos melhores...

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