Dei-te o meu corpo como quem estende
um mapa antes da viagem, para que
nele
descobrisses ilhas e paraísos e aí
pousasses
os dedos devagar, como fazem as aves
quando encontram o verão. Se me
tivesses
tocado, ter-me-ia desmanchado nos
teus braços
como uma escarpa pronta a desabar, ou
uma cidade do litoral a definhar nas
ondas..
Mas, afinal, foste tu que desenhaste
mapas
nas minhas mãos – tristes geografias,
labirintos de razões improváveis, tão
curtas
linhas que a minha vida não teve
tempo
senão para pressentir-se. Por isso,
guardo
dos teus gestos apenas conjecturas,
sombras,
muros e regressos – nem sequer
feridas
ou ruínas. E, ainda assim, sem eu
saber porquê,
as ondas ameaçam o lago dos meus
olhos.
MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA (1959), O Canto do Vento nos Ciprestes (2001)
Acabado de lançar ao éter o XVIII poema da minha selecção, deparo com o XIX dos 21 de M.J.M.Nunes. Magnífico, como praticamente todos os que o antecederam.
ResponderEliminarEste poema ❤️
ResponderEliminarLembro-me da frescura de quando apareceu. Acho que envelheceu.
ResponderEliminarParabéns, Maria do Rosário Pereira. Gostei.
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