7 de dezembro de 2023

21 POEMAS DO SÉCULO 21 - V

 

O POETA

 

Foi visto

(diversas vezes) com uma

caneta na mão. Nem

tentava disfarçar. Sentava-se à mesa consigo

(sempre

cingido de livros) e escutem:

o que fazia era

escrever poemas. Sei muito bem o que digo.

Ele fazia poemas. Os outros

passavam ao largo

(fugindo a qualquer pergunta) ele nem

sequer escondia o que ali estava a fazer. Ali

à frente

de todos. Linhas e linhas escritas.

Não se limitava a ler.

Não se limitava apenas a viver a sua vida.

Sei muito bem o

que digo. Aquilo eram

poemas.

 

JOÃO LUÍS BARRETO GUIMARÃES* (1967), Aberto todos os Dias (2023)

* Prémio Pessoa 2022



4 comentários:

  1. Bom poema. Estou particularmente atento às poéticas que observem o poeta. Quanto ao presente poeta ainda não o li devidamente mas é provável que o faça um dia para saber o que digo já que toca em materiais sensíveis à minha geração inclusive algumas palavras e a novidade naconstrução da frase estrôfica

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  2. 'Sei muito bem o que digo: aquilo eram poemas!' Provavelmente só os poetas sabem adivinhar tal coisa...
    Obrigado, caros poetas/especialistas por me darem a ler tão originais obras de arte!

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  3. É um dos poetas actuais de que mais me interessa. Não está sempre ao memso nível, mas nem ele nem ninguém. "Luz Última" é um dos meus livros.

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  4. Eu li (leitura de biblioteca) a antologia "O Tempo Avança por Sílabas". Depois adquiri "Movimento" e "Aberto todos os Dias" pelos quais, a espaços, tenho avançado. Nem sempre é igual, de facto.

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