ESPAÇO DA RELVA
b)
exangue como neve
outra folha liberta
areia entre os espelhos
sinal de lume
e pedras na cidade
lágrima de granito
estanque
se tudo range
é lume de árvore
transparente
e)
espaço da relva
sítio de cair
no outono
como o grão
de bruços
a folhagem
dela se desprende
veloz o ouvido
do medo
nesta aliança
com a luz
JOSÉ DE SAINZ-TRUEVA, in Ilha-2, funchal, 1979.
José Manuel de Freitas de Sainz-Trueva nasceu na Madeira. Em 1966 e 68 aparece na página literária de "A Capital". Mais tarde noutros periódicos, Diário de Lisboa, Comércio do Funchal e República. Está antologiado na Poesia 70 e Poesia 71 da Editora Inova do Porto. Participou na experiência colectiva de Ilha-2 com uma série de textos sob a exigência e rigor dos Hay-Kais orientais.
ResponderEliminarHaiku ou haicai (aportuguesamento da palavra, dicionário Houaiss) é um poema de três versos com cinco, sete e cinco sílabas. Há dicionários que apresentam a palavra como hai-cai. Criado no Japão no século XVI e ainda em voga, costuma versar temas da natureza ou das estações do ano. Herberto Helder tem “Quinze haikais japoneses” (grafia com k) em O Bebedor Nocturno. Gonçalo M. Tavares publicou recentemente (Relógio d´Água) uma obra de 100 haikus com o título Tempestade e Motor. Parece-me não ser um género fácil, dada a exigência de regras estróficas e métricas, além das de ordem temática.
EliminarDa criação poética colectiva constituída por estrofes em cadeia ligadas pelo sentido e a que se chama haikai-no-renga, surgiu o haikai, mais tarde também designado haiku. O haikai resultou da primeira estrofe ou mote do haikai-no-renga quando essa estrofe passou a constituir um poema independente. Esse pequeno poema de dezassete sílabas métricas distribuídas por três versos ou segmentos de 5,7,5 sílabas tornou-se o mais famoso género poético no Japão. O seu grande mestre foi Matsuo Bashô ❤️
EliminarCreio que a sua métrica é muito semelhante à métrica da poesia tradicional portuguesa. Predominam os versos de 5 e de 7 sílabas métricas. É assim, Manuel?
Gosto muito dos haikais de Herberto Helder. Entre os mais recentes e conhecidos poetas de haiku em Portugal também gosto de Albano Martins, Casimiro de Brito, Luísa Freire, Tolentino Mendonça e Yvette Centeno. Ainda não li os 100 haikus de Gonçalo M. Tavares.
Cheguei a tentar aprender mais alguma coisa sobre isto. Como, mais uma vez, «quem muitos burros toca...», isto ficou para trás.
EliminarPaula: redondilha menor e redondilha maior, a "medida velha" de que Camões também se serviu.
EliminarObrigado. Fiquei esclarecido. Como não cultivo o género limitei-me a transcrever orv
ResponderEliminarEu é que agradeço a partilha, Laurindo. Fiquei curiosa com os textos publicados na Ilha 2 e gostaria ter acesso a eles mas não consigo encontrar o livro nas bibliotecas. Nem na BNP. Apenas um exemplar à venda por 30€ na Loja do Cão Preto. Paciência 😏
EliminarQuanto à poesia haiku e outros quejandos do Oriente, são influências da minha avó materna ❤️
...limitei-me a transcrever a informação anexa aos poemas. Admito que o J S-T ainda estivesse nos primórdios oficinais e não levasse a exigência a um grau de perfeição tão elevado. É de supor que sim. .
ResponderEliminarOlá Paula, eu posso levar-lhe um exemplar de Ilha-2 mas só a título de empréstimo. Eu só tenho este exemplar e se ficar sem ele é parte da minha identidade que desaparece...de qualquer modo agradeço-lhe o interesse. Quanto às suas observações poéticas está de parabéns pois tem enormes conhecimentos sob a matéria que versa.
ResponderEliminarObrigada, Laurindo. Aceito sim o empréstimo 🙂e o livro será seguramente devolvido. Fico encanitada quando não devolvem os livros que empresto. Quanto à poesia haiku sei alguma coisa, mas não sou especialista. Longe disso. Em 2020 e 2021, durante certos desconfinamentos, fiz dois cursos com a Profª Alfarrobinha. Purista, aprendi muito com ela e com os recursos que partilhou para aprofundamento. A minha avó transmitiu-me o sentir, a Profª Alfarrobinha, o pensar. Sou grata a ambas 😊
EliminarNa altura, sobretudo nas subidas à serra, ainda garatujei alguns haikus mas tornou-se irregular com o regresso às rotinas presenciais de trabalho. Para 2024, lancei-me o desafio de escrever um por dia. A ver vamos como irá correr. É também uma forma de sentir-me próxima da minha avó ❤️
Claro que sim, deve aventurar-se nesse projecto. Serei um dos seus leitores. Numa próxima oportunidade levar-lhe-ei a antologia. Fico na espectativa da sua leitura. Feliz Natal.
ResponderEliminarCombinado, Laurindo. Obrigada e Feliz Natal também para si 😘
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