20 de dezembro de 2023

21 POEMAS DO SÉCULO 21 - XII

 


MALEVICH, QUADRADO NEGRO

 

Um erro metafísico,

um insulto à pureza e à altura.

 

Para que servem as formas?

 

Para esconder a nossa face

de anónimos mortos

entregues à cinza.

 

Propicia-se a luz.

A noite dos místicos e dos frágeis ilumina-se.

Não há desenho que reclame

a mão do prodigioso desenhador.

 

Sob lâminas e dúvidas

o mundo esmorece.

Sépalas amparam a forma, o mar

onde se escuta o negro quadrado.

 

O que se lê por entre ilegível caligrafia?

Alguém comenta a fúria dos modernos.

Uma cidade é arrasada. Eis a última estação.

O inferno suspende-se. Uma poeira

cai sobre a pele.

 

Lembramos o muro de infância

onde vimos as sombras, recortadas

subtilmente, ameaçadoras.

 

Um assentimento

destruía-nos.

Frases alargavam a página.

não continham esse regresso:

 

«O vazio é a tua morada-»

 

LUÍS QUINTAIS (1968 ), Ângulo Morto (2021)



2 comentários:

  1. Não li Ângulo Morto, mas do livro A Noite Imóvel anotei Vigília, a partir de Peter Dale.

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  2. Não sou um entusiasta, tem momentos, para mim, claro.

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