10 de dezembro de 2023

TEM DIAS XVIII

 


Principio a escrever

e letra a letra construo uma casa

leve e obscura como um poema


Escrevo como quem da mágoa

se despede e é outra cor


O espanto inunda as mãos (aves sem peso)

e uma canção antiga

nasce no interior das sílabas


Um saber precário consome a minha voz

um pedaço de mar

um véu rasgado


Olho devagar os rostos

(luz matinal)

e à volta dos lugares

desenho um arco de orvalho e mel.



FERNANDO JORGE FABIÃO, in margem-2, funchal,2001.


4 comentários:

  1. Que grande alegria ver aqui o meu velho Amigo Fernando Jorge Fabião, e que tanta falta faz ao convívio dos seus leitores!
    Também aparece nos meus 101 poemas.

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  2. É um nome completamente novo para mim e arrisquei o vosso comentário. Encontreio-o na secção "Estante" desta Margem-2. Nesta secçâo a minha velha amiga e dinamizadora cultural Maria Aurora Carvalho Homem tentava divulgar na revista novos valores...os canónicos eramos nôs ..que ela descobrira em 75 quando chegou à Madeira vinda do Diário de Lisboa. Encontrando-me já em Lisboa nunca falei com o FJF mas gostei deste poema.. .

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    1. Para além de muitos dispersos, ele é autor de dois livros, um dos quais «Nascente da Sede» (2000), de que gosto muito. Acontece ter sido o primeiro livro que apresentei, há também esse vínculo afectivo.

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