edição crítica
La ville s´endormait
Et j´en
oublie le nom
Jacques Brel
escrever sobre um campo de couves
nas folhas toscas e grossas
pesadas de chuva
escrever sobre as cores do asfalto
o branco cinza das noites nórdicas
partir para a enorme cidade
planetária
essa cidade única onde vivemos
condenados
a tragar o velho modernismo apoplético
arquivo repassado de pessoas
escrever sobre um campo de couves
Herculano esquecido do romantismo
entre as urtigas cava bem fundo:
em vez de couves
há cadáveres esquisitos
ali mesmo no bairro do vazio
com gente exausta de desejo
nem tudo está perdido
domingo irei para as hortas na pessoa dos outros
contente da minha animosidade
alinhavos
baquelite
fumo azul
seria uma vida paralela mas passou o
momento
ROSA OLIVEIRA (1958), errático (2020)
Tem despertado entusiasmos; não é bem o meu caso, mas também não rejeito.
ResponderEliminar"errático" de poemas lúdicos e disfóricos, como lhes chamou Pedro Mexia. De facto, há a disforia associada a essa «enorme cidade planetária»... Só apetece lembrar o Herculano de Vale de Lobos e os planos domingueiros do Álvaro pessoano (2º verso da última estrofe). Poesia e intextualidade, das boas. E o resto são cantigas :)
ResponderEliminarIntertextualidade, queria eu dizer.
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