30 de dezembro de 2023

21 POEMAS DO SÉCULO 21 - XX

 

3

 

Fica dentro de mim, como se fosse

eterno o movimento do teu corpo,

e na carne rasgada ainda pudesse

a noite escura iluminar-te o rosto.

No teu suor é que adivinho o rastro

das palavras de amor que não disseste,

e no teu dorso nu escrevo o verso

em pura solidão acontecido.

Transformo-me nas coisas que tocaste,

crescem-me seios com que te alimente

o coração demente e mal fingido;

depois serei a forma que deixaste

gravada a lume com sabor a cio

na carícia de um gesto fugidio

 

ANTÓNIO FRANCO ALEXANDRE (1944), Duende (2002)

 


6 comentários:

  1. Também não li "Duende". Formalmente, gosto bastante.

    Fim da série, o que se segue?

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  2. 'No teu suor é que adivinho o rastro / das palavras de amor que não disseste'. Que bonito!

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  3. Franco Alexandre é grande! Dos poetas que mais gosto. Em 2021, felizmente, a sua obra poética completa foi publicada pela Assírio & Alvim. Será releitura para 2024 🙂

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  4. Estas «coisas» ou são obscenas ou são poéticas, e isto é poesia.

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