BOAS NOITES
Estava uma lavadeira
A lavar numa ribeiraQuando chega um caçador:
-- Boas tardes, lavadeira!
-- Boas tardes, caçador!
-- Sumiu-se-me a perdigueira
Ali naquela ladeira;
Não me fazeis o favor
De me dizer se a brejeira
Passou aqui a ribeira?
-- Olhai que, dessa maneira,
Até um dia, senhor,
Perdereis a caladeira,
Que ainda é perda maior.
-- Que me importa, lavadeira!
Aqui na minha algibeira
Trago dobrado valor...
Assim eu fora senhor
De levar a vida inteira
Só a ver o meu amor
Lavar roupa na ribeira!
-- Talvez que fosse melhor...
Ver coser a costureira!
Vir de ladeira em ladeira
Apanhar esta canseira,
E tudo só por amor
De ver uma lavadeira
Lavar roupa na ribeira...
É escusado, senhor!
-- Boas noites,... lavadeira!
-- Boas noites, caçador!...
João de Deus (São Bartolomeu de Messines, 1830 - Lisboa, 1896),
Campo de Flores (1893)
Pára por uma semana.
ResponderEliminarQue contraste entre este fluir e os dois (ou um e qualquer coisa) anteriores!
ResponderEliminarEste é um formosíssimo poema faceto, que nesta minha antologia dialoga com o do Gil Vicente e com o 101º, a revelar na altura própria.
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