Menina dos olhos tristes,
O que tanto a faz chorar?
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.
Senhora de olhos cansados,
Porque a fatiga o tear?
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.
Vamos, senhor pensativo,
Olhe o cachimbo a apagar.
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.
Anda bem triste um amigo,
Uma carta o fez chorar.
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.
A Lua, que é viajante,
É que nos pode informar.
- O soldadinho já volta
Do outro lado do mar.
O soldadinho já volta,
Está quase mesmo a chegar.
Vem numa caixa de pinho.
Desta vez o soldadinho
Nunca mais se faz ao mar.
REINALDO FERREIRA
Mais um poema singelo, mas mais denso que um favo de mel...
ResponderEliminarOuvi esse poema muito baixinho para ninguém ouvir e um dia bem alto quando o soldadinho andava de cravo na mâo. É comovente lê-lo ainda hoje e constatar diariamente a sua gritante actualidade noutras latitudes.
ResponderEliminarUma realidade a que, infelizmente, o progresso civilizacional passou ao lado: a guerra! A que inspirou este poema foi das menos 'justas'...
EliminarReinaldo Ferreira (1922-1959) não podia referir-se à Guerra Colonial Portuguesa (1961-1974). Como os seus poemas só postumamente foram editados (Lourenço Marques, onde residiu, em 1960, e na "Metrópole" salvo erro em 66 - com um prefácio de José Régio -) ficou a ideia de que estava a referir-se aos soldadinhos portugueses de Angola, Guiné e Moçambique. É um poema visando a guerra intemporal (ou alguma guerra do seu tempo) um pouco a semelhança de "O menino de sua mãe", de Pessoa. Não confundir este RF com o pai, homónimo, o prolixo "Repórter X".
ResponderEliminarObrigado, Manuel, pelo esclarecimento. A ignorância também mata... 🤪
ResponderEliminarMas é natural que se identifique o poema com a Guerra Colonial. Zeca Afonso e Adriano cantaram a "Menina dos olhos tristes" e, de facto, a canção foi uma bandeira contra a guerra. Daí ter sido proibido o disco, não sei se o do Zeca se o do Adriano. Se calhar os dois...
EliminarIsto foi um hino; e merece-o, qualquer que tenha sido a sua motivação.
ResponderEliminarO Reinaldo Ferreira, Filho, é talvez o mais obscuro dos grandes poetas da segunda metade do século passado, e para doxalmente dos mais popularizados (Amália, José Afonso...).
ResponderEliminarNão sei por que razão ele nunca se quis distinguir do pai, o trágico Reinaldo Ferreira (1897-1935), o famoso Repórter X com quem, aliás, era muito parecido fisicamente. Eu, quando llhe faço referência, acrescento sempre o parentesco, pis na verdade, Reinaldo Ferreira há dois.
... cuja soma de anos de vida não ultrapassará a de muitos de nós, toda, até agora...
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