4 de setembro de 2014
"Ei tu que fumas, a voz não pertence ao soldado que está de pé, ei tu que fumas, foi outro soldado, talvez o da cara quadrada. Antes de isto ter começado um preto podia levar uma sova por tratar um branco por tu e nem pensar que, ei tu que fumas. Os soldados riem-se e o pai ri-se outra vez. De cima do jipe o soldado da cara quadrada está cada vez mais divertido, chegou a altura de vingar-se do murro que o Lee lhe deu, já não tem os olhos semicerrados, peço a deus que os soldados se vão embora, prometo rezar uma ladainha inteira, das da emissora católica, peço a deus que o tio Zé chegue, o tio Zé anda a ajudar o povo oprimido, tem um cartão e tudo, talvez eles o ouçam e nos deixem em paz, peço que o soldado não se lembre do jogo de futebol nem de mim, peço tantas coisas a deus, mas deus, como sempre, mais surdo que uma porta, os soldados continuam à nossa frente satisfeitos pelo medo que nos provocam."
O RETORNO, Dulce Maria Cardoso
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Não me escapa, já a tinha na agenda para procurar.
ResponderEliminarLi uma crítica sobre o livro e fiquei com a pulga na orelha. Parece-me senhora de um estilo muito próprio que me cativou e, parece-me, a temática não me é estranha.
Boas leituras!
Tu, que também és dos que viveram na pele um retorno atribulado, irás emocionar-te, sem dúvida! No fim, deixa aqui um testemunho...
ResponderEliminarAbraço!
Já li e gostei. A autora soube levar o barco a bom porto sem se dispersar em querelas estéreis e juízos de valor. Apanhou perfeitamente o ambiente e o sentimento do comum retornado; não estão refletidas no livro outras sensibilidades que havia entre aquela mole de gente, nem tinha de estar por se tratar apenas de um romance que vive à volta do Rui, personagem central do princípio ao fim da ação, que "desempenha" o papel com muito realismo e verdade. Ao sentimento de perda de uma terra multicolorida somou-se a desilusão da metrópole cinzenta, preta.
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