5 de setembro de 2011

um soneto de João Xavier de Matos

Que assim sai a manhã, serena e bela!
Como vem no horizonte o sol raiando!
Já se vão os outeiros divisando,
já no céu se não vê nenhuma estrela.

Como se ouve na rústica janela
do pátrio ninho o rouxinol cantando!
Já lá vai para o monte o gado andando,
já começa o barqueiro a içar a vela.

A pastora acolá, por ver o amante,
com o cântaro vai à fonte fria;
cá vem saindo alegre o caminhante:

Só eu não vejo o rosto da alegria:
que enquanto de outro sol morar distante,
não há-de para mim nascer o dia.

Poetas do Século XVIII, selecção, prefácio e notas de Rodrigues Lapa, 3.ª edição, Lisboa, Seara Nova, 1967, pp. 85-86.


(lido numa sessão de 2011)

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