A CAMA, SE
AO MENOS MUDASSE A CAMA
Excertos do
conto filosófico “Maridos”, de Fernando Pessoa:
«Não há
mulher nenhuma neste mundo – nem a mais séria, senhor juiz – que não tenha invejado
essas que lá andam nas ruas à procura
dos homens – nenhuma, senhor juiz (…)
Isto, senhor
juiz, e para que Vossa Excelência saiba, e os senhores jurados, é o que todas
as mulheres sentem.
(…) E vem
uma vontade de meter a costura pela pia abaixo, e de ir para longe ao menos só
para chorar à vontade.
(…) Sempre o
mesmo homem, senhor juiz – o mesmo homem todos os dias, com o mesmo corpo e a
mesma maneira! Todas as noites, senhor juiz, e na mesma cama – nem a cama muda
ao menos. E aquilo ao fim de tempo já não era viver, nem coisa que se parecesse
– era uma coisa entre comer para não ter fome e fazer o serviço da casa… Se os
homens soubessem o que custa a aturar! Se soubessem o nojo que a gente tem por
eles quando está encostada a eles!
E eu, senhor
juiz, não tinha outro remédio senão matá-lo para estar bem com a minha
consciência e com a Igreja.
Foi por
isto, senhor juiz e senhores jurados que matei o meu marido.»
Foi hilário!
ResponderEliminarUm Pessoa desconhecido (?)
ResponderEliminarEscreveu pouca prosa, mas o génio está sempre presente.
Um excelente naco!