Carta
interessante que dá para perceber o grau de amizade e confiança existente entre
os correspondentes. Também de algum vínculo familiar, pois, segundo vi nas
notas, João de Barros era padrinho da filha de Ferreira de Castro.
Do autor tive
em tempos, e já não sei onde está, a sua adaptação em prosa da Odisseia de Homero. A partir daí, as
minhas referências ficaram pela monumental História
da Literatura Portuguesa, de António José Saraiva e Óscar Lopes, em cuja 6º
Época, Capítulo XII se pode ler: «A imaginária helénica torna-se
particularmente insistente em João de Barros (1881-1960), que, além das suas
campanhas de pedagogia e de aproximação luso-brasileira, se distingue por uma
afirmativa confiança no progresso, na razão, nas reservas de energia imanentes
ao homem terreno e ao povo».
Assim, limito-me
a dois apontamentos de ordem pessoal. Primeiro, o facto de partilhar com João
de Barros o gosto pela praia de Santa Cruz, de onde é expedida a missiva de 15
de Agosto de 49 – de «MAR-LINDO, restaurante e salão de chá, alimentação
esmerada, appartements e quartos com água quente e fria». Há pouco tempo, numa das minhas passagens pela
praia, fotografei o monumento que o homenageia:
«POETA DO
QUE NÃO MORRE,
AVENTUREIRO
DOS CIMOS,
NAVEGADOR
ENTRE ABISMOS,
DESCANSA,
REPOUSA EM PAZ…
TEU SULCO
NÃO SE DESFAZ
NUM FRÁGIL
FLUIR DE ESPUMAS…»
O segundo
apontamento é sugerido pelo pintor Machado da Luz, citado na nota biográfica, que
penso ser pai do meu companheiro de “armas” em Nampula (ele no Q.G. e eu no
Serviço de Intendência) Manuel Machado da Luz, arquitecto e crítico de cinema,
falecido precocemente em 1997. O Manel era um homem de uma cultura e bonomia
extraordinárias. Belas noites de copos e conversas no bar Bagdad de Nampula… No
regresso a Lisboa (1972), tínhamos combinado um jantar no Gambrinus com mais
dois elementos do grupo, e foi a única vez que entrei no emblemático local. Já
depois de 1974, encontrei-o várias vezes num restaurante da Rua Rodrigo da
Fonseca, pois trabalhava como arquitecto no Gabinete da Área de Sines que
ficava ali mesmo ao pé. Por fim fomos ficando distanciados, cada um pelo seu caminho,
e nem sequer soube da sua morte.
Desculpem-me
estes apontamentos pessoais que se esgueiram um bocado da matéria do livro, mas
julgo que numa sessão de leitores, mesmo virtual, também há lugar para eles.
Muito gosto eu de aprender!
ResponderEliminarBela evocação, meu caro…
ResponderEliminarHá outro monumento que lhe é dedicado aí na Praia de Santa Cruz -- na primeira aldeia a seguir à Praia, Casalinhos de Alfaiata, nasceu um dos meus bisavós… --, creio ser outro, caso contrário você teria dado por isso, está gravada uma frase do Ferreira de Castro sobre ele.
E também é interessante o monumento ser do Machado da Luz, autor das boas ilustrações de «A Selva», nas obras completas, de 1949.
Esse monumento de Casalinhos de Alfaiata não conheço. Mas neste, pelo que averiguei, está a frase de Ferreira de Castro (na parte posterior de que não tenho foto):
Eliminar"No verão um grande poeta vinha contemplar o Atlântico de sobre as arribas. Dedicara a vida a unir ainda mais a alma de Portugal à do Brasil, através do mar que ele amava desde menino. Na sua obra de resplandecente beleza contava a liberdade, a fraternidade, as virtudes do Homem e o futuro redimido de velhas servidões. Chama-se João de Barros e foi também um preclaro cidadão, desses que honram eminentemente a espécie humana".
Este monumento, segundo li, é da autoria de José Santa Bárbara (escultor) e Keil do Amaral (arquitecto).
Não, é esse mesmo...
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