19 de março de 2020

100 CARTAS A FERREIRA DE CASTRO

CARTAS XXIX e XLV

Vou a meio do livro e sinto-me bastante enriquecido cultural e esteticamente com o que vou lendo (as próprias cartas e as suculentas e mui eruditas notas do autor). Renovo, por isso, o meu agradecimento e as felicitações ao Ricardo Alves.
O que em primeiro lugar ressalta destas cartas e creio que da generalidade da literatura epistolar é o revelarem a personalidade e os gostos (às vezes as fraquezas e achaques) de quem as escreve e, indirectamente, também do destinatário. São quase um espelho da própria alma. Curiosa, por exemplo, a confissão/lamento de um já septuagenário M. Teixeira-Gomes (Carta XXIV) quando diz que os empachos da idade só lhe permitem ler muito lentamente. 


Muitas coisas me impressionaram até agora, mas vou apenas referir em particular duas:

Na carta XXIX (João da Silva Correia) achei imensa graça à passagem em que o autor diz a Castro que apesar da prova de algodão quanto ao êxito de uma obra (o fazer chorar a criada) duvidava que tal se verificasse sempre, porque uma peça de teatro que escreveu ao 19 anos e que não tinha pés nem cabeça fez chorar mais na sala de espectáculos do que um Sermão do Encontro (se alguém não souber o que é, posso esclarecer) 

Na carta XLV, Herberto Sales, falando de A Lã e a Neve, diz:
"Ali há vida como só na vida... Não sei como se pode criar um mundo e criar gente de carne e osso, através da simples enfileiração de caracteres tipográficos... Sua força de persuasão é tão grande que a gente não se conforma que Horácio seja um mero tipo de romance. Não. É um moço português que vive e foi recenseado. Ele está aí. Não pode deixar de estar."
Que maior elogio pode receber um autor?

5 comentários:

  1. É um privilégio obter as vossas impressões por escrito!
    Algo que fico a dever ao Covid 19...

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  2. É o que se chama uma leitura a eito. Eu vou tocando nas cartas começando por aquelas personalidades que me são mais conhecidas e assim por diante. A do Teixeira-Gomes já tinha lido. Esta, de Herberto Sales, não.

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  3. Estimados (ainda mais agora), Confrades,
    Tenho acompanhado todos os artigos que vêm publicando, assim como os comentários; uns e outros,em muitos pontos, reveladores do meu próprio pensamento.
    Estou a visar a meta para partilhar convosco o que fui digerindo.
    Para já, levo quase 18 páginas A4 manuscritas com anotações. Até sempre e
    SAÚDE.

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    1. Zé Serra, Vá pondo... 18 páginas dá pelo menos 50 "posts"
      Abraço e SAÚDE!

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    2. 18 páginas?? Já estou como o fernando: morigere, morigere e reparta... Abraço

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