Correu sob as minhas pálpebras a tua imagem
agora pedra definitiva. Abraçava-te
inteiro, movendo-te entre mesas, sorrindo
aparentemente impreparado às arestas do dia. Óculo
de aferir o silêncio da pátria. Caçador
de girassóis entre o cimento. Tudo
o que de súbito extravasou da urna
e se tornou um rio que descia a cidade
e se mantinha vivo, voz agora impune.
Voz lírica e vibrátil, êmbolo
de aço que tempera. As visitas
sabem agora não te encontrar em casa. A voz
calou o que o futuro lhe daria. O passado
é porém um disco permanente
rolando sobre a agulha.
O que fizeste dessa voz, ferramenta
incorrupta, é agora amianto.
Passa purificadora pelo fogo
entre o mecanismo dos relógios.
Algures arquivam uma ficha. Sabem
já não estares ao alcance. O que fica é firme.
O resto simples cinza aérea
que já nem faz sombra no vento.
Deslizam-me dos dedos velhas fotografias. Servem
de vez em quando para lembrar teus fatos.
9 de Abril, 1964
EGITO GONÇALVES, O Fósforo na Palha (1970)
Notícias do Bloqueio...
ResponderEliminar... e fascículos de poesia "A Serpente", três números publicados em 1951 com direcção e orientação literária de Egito Gonçalves.
Eliminarolha, esses eu não conheço...
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