OS ARAUTOS NEGROS
Há pancadas tão fortes na vida... Eu sei lá!
Pancadas como do ódio de Deus; como se sob elas
a ressaca de todo o sofrimento
estagnasse na alma... Eu sei lá!
Poucas; mas acontecem... Abrem leivas escuras
no rosto mais duro e no dorso mais forte.
Serão talvez os potros de átilas selvagens;
ou os arautos negros que nos envia a Morte.
São as profundas quedas dos Cristos da nossa alma,
de uma fé adorável que o Destino blasfema.
Tais pancadas sangrentas são as crepitações
de um pão que na porta do forno se nos queima.
E o homem... Pobre... Pobre! Volta os olhos, como
quando sobre o seu ombro uma palmada o vem chamar;
volta seus olhos loucos, e todo o já vivido
como um charco de culpa estagna em seu olhar.
Há pancadas na vida tão fortes... Eu sei lá!
César Vallejo (Santiago de Chuco, Peru, 1892 - Paris, 1938),
Antologia Poética, versão de José Bento.
E para isto vivemos. E disto morremos. Para que nascemos???!!! Usemos bem os intervalos.
ResponderEliminarÉ um grande poema.
EliminarUm grande poema, é verdade! Mas, neste caso, na língua original! O tradutor que me perdoe, mas esta traducão/versão portuguesa, face ao original espanhol, é o bloco de mármore do qual talvez possa, com apurado trabalho de cinzel, surgir a bela estátua...
ResponderEliminarPois, é sempre um problema... Porque não 'golpe', â mesma, em vez do 'pancada'?...
EliminarDe qualquer modo, o José Bento, que era também poeta, era igualmente muito considerado enquanto tradutor da língua castelhana. Se a memória não me atraiçoa, foi condecorado por Espanha, por caisa disso mesmo. Temo-lo aqui, no nosso blogue.
https://acurvadoslivros.blogspot.com/search/label/Jos%C3%A9%20Bento
E esses POEMAS IMORTAIS, morreram?...