29 de março de 2024

101 POEMAS PORTUGUESES - #30


CANÇÃO DO NU

Lindo
Mármore precioso que na alcova
Surpreendi dormindo!
E lindo
À luz dum fósforo, acendido a medo,
Despertou sorrindo.
E, lindo,
Dos olhos as meninas me saltaram
Para o nu que se estava descobrindo.

Linda!
Ficou-se ao desgasalho adormecida,
Ai vida,
Como ainda não vi coisa tão linda.

Linda,
Braços abertos em desnudo amplexo,
Seu corpo era uma púbere mendiga,
E ele é que estava pedindo,
Lindo,
O meu sexo.


Afonso Duarte (Ereira, Montemor-o-Velho, 1884 - Coimbra, 1958),
Rapsódia do Sol-Nado seguido de Ritual do Amor (1916)

4 comentários:

  1. Salve, velho Duarte sempre jovem! Estavas sempre ao lado dos novos, que Apolo te acompanhe lá na eternidade! E que belo mármore para o teu cinzel!

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    1. É verdade, meu caro, que pura beleza! E os novos foram gostando dele. A minha «Obra Poética», se não erro, é organizada pelo Cochofel e outro(s) cujo nome agora me escapa.

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  2. Respostas
    1. É dos mais belos poemas eróticos alguma vez escrito na nossa língua, para mim.

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