RELÍQUIA
Que tem p'ra mim uma carícia de asa.
Vou-lhe pedir ainda que me fale
Da que ele agasalhou em nossa casa.
Na sua trama já puída e lassa
Deixo os meus dedos p'ra senti-la ainda;
E Ela vem, é ela que me abraça,
Fala de coisas que a saudade alinda.
É a minha mãe, mais perto, mais pertinho,
Que eu sinto quando toco o velho chale
Que guarda um não sei quê do seu carinho.
E quando a vida mais me dói, no escuro,
Sinto ao tocá-lo como alguém que embale
E beije a minha sede de amor puro.
Vou-lhe pedir ainda que me fale
Da que ele agasalhou em nossa casa.
Na sua trama já puída e lassa
Deixo os meus dedos p'ra senti-la ainda;
E Ela vem, é ela que me abraça,
Fala de coisas que a saudade alinda.
É a minha mãe, mais perto, mais pertinho,
Que eu sinto quando toco o velho chale
Que guarda um não sei quê do seu carinho.
E quando a vida mais me dói, no escuro,
Sinto ao tocá-lo como alguém que embale
E beije a minha sede de amor puro.
António Patrício (Porto, 1878 - Macau, 1930),
in Cabral do Nascimento, Líricas Portuguesas - 2.ª Série
Nem preciso de um chale para sentir assim; mas aproxima e desencadeia.
ResponderEliminarTodos temos qualquer coisa equivalente.
EliminarBelo ❤️
ResponderEliminarMuitíssimo.
EliminarLi muito pouco da poesia de António Patrício. Grande contista, lembro-me da impressão que me causou a leitura dos contos 'Diálogo com uma águia' e 'O homem das fontes'. Também li 'Pedro o Cru', teatro.
ResponderEliminarNunca li os contos dele. Vi, há muitos anos, uma esplêndida encenação do Carlos Avilez, no Teatro Nacional, do «Pedro, o Cru», com o Jacinto Ramos.
EliminarChaile, era (é?) como chamavam na minha terra ao acessório. Quando agasalho (porque também servia de adereço de cerimónia), era de lã e pode dizer-se que simbolizava a protecção materna. Carícia de asa... que bela imagem!
ResponderEliminarNa minha também.
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